The Austen Adventures

Ariel Bisset teve uma ideia de fazer uma série de vídeos sobre suas aventuras e Jane Austen. Em seu primeiro vídeo, Ariel se diz apaixonada pela obra de Austen, no entanto, ainda não tinha lido nenhum livro da autora. Em seguida, ela faz uma série de vídeos com suas impressões sobre Austen.

Abaixo a Introdução:

Veja aqui os demais vídeos:

The Austen Adventures: An Update!

Gazeta de Longbourn Apresenta: Edmund Bertram’s Diary

At last it was time for me to claim Fanny, and I found her with relief.

‘I am worn out with civility,’ I confessed, as I led her on to the floor. ‘I have been talking incessantly all night, and with nothing to say. But with you, Fanny, there may be peace. You will not want to be talked to. Let us have the luxury of silence.’

She smiled in silent sympathy, and I found it a great solace to be able to dance with her.

How different was our silence to the one that had fallen between Miss Crawford and myself, for that had been angry and not at all comfortable. But then, Fanny is one of my oldest friends, and it would be a strange day, indeed, if I should ever find myself at outs with her.

Bem… isso foi curioso… Dos romances da Austen, Mansfield Park é o que menos gosto (gosto de todos, mas todo mundo tem suas preferências…), e no entanto… no entanto, Edmund Bertram’s Diary foi meu diário favorito da série da Amanda Grange até agora (isso porque ainda falta ler o do Mr. Tilney e sempre gostei muito do Tilney…).

Irritava-me profundamente a forma como Bertram ficava totalmente cego por Mary e machucava Fanny e como ela se calava e deixava que ele – que tecnicamente era o moço bom, puro e generoso, avesso da turminha muitas vezes indigesta da família – pusesse sal nas feridas já abertas.

Ler agora o ponto de vista do Edmund fez-me sentir mais caridosa e benevolente em relação ao moço. A despeito de sua fascinação com Mary, ele nunca esquece a amizade e afeto por Fanny. O tempo todo em que lia, eu torcia por Edmund, para que ele pudesse abrir logo os olhos e enxergar o que estava bem diante de seu nariz, para que ele não sofresse tanto.

Comparativamente aos outros mocinhos da Austen, Edmund parece bastante sem sal. Ele não é um herói galante que arranca suspiros, que nos fascina com seu mistério, ou seu porte, ou sua sagacidade.

A verdade, contudo, é que ele é… companheiro. Acho que essa é a palavra e esse é o encanto dele. Ele é companheiro, fiel aos seus princípios, gentil e afetuoso. E a Grange transporta essas qualidades para todas as relações de Edmund – com os irmãos, com os amigos, com os pais. A forma como ela escreveu ele com Tom, o carinho e a lealdade que Edmund tem para com o irmão mais velho é para te deixar sorrindo feito bobo.

Edmund Bertram’s Diary é um retrato simpático e terno de um personagem que, muitas vezes, deixamos de lado por não corresponder às nossas noções de handsome, dashing gentleman. Ele não nos oferece paixões violentas, mas antes a certeza de um amor tranqüilo e constante. Sereno, mas nem por isso menos intenso.

* Lu Darce (JASBRA-PE) quase esqueceu de postar isso aqui hoje, mas deve ser desculpada porque ainda está meio fora do tempo. Esse e outros esquecimentos, você pode encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.

The complete guide to teaching Jane Austen

Um guia para ensinar Jane Austen, que oferece idéias e dicas sobre como ensinar as obras da autora através dos filmes baseados nos livros. Este guia faz uma breve biografia da autora até começar a explorar a sinopse de cada filme, tanto daqueles baseados na vida de Jane quanto nas suas obras. Éste guia pode ser uma excelente ferramenta de trabalho para professores de inglês, pois não exclui a leitura dos livros ao estimular o aluno a ver os filmes. Muito indicado. 

So you think you know Jane Austen (John Sutherland & Deirdre Le Faye)


Título: So you think you know Jane Austen
Autores: John Sutherland e Deirdre Le Faye
Editora Oxford University, 240 p.

Este livro é recheado de perguntas sobre Jane Austen e seu mundo. Os quizzes, introduzidos por um breve resumo de cada livro, estão divididos em níveis de dificuldade, de acordo com cada obra. Através das respostas, dos erros e acertos, o leitor pode perceber o quão bem conhece (ou desconhece) Jane Austen. Este livro tem o objetivo de divertir e também ensinar, a ler de forma a desenvolver uma dedução interpretativa. Completar o livro garante um conhecimento maior de Austen e suas obras, assim como dos ensinamentos e lições contidos nelas.

Mr. Darcy’s diary (Amanda Grange)


Natallie Chagas nos apresenta uma resenha do livro Mr. Darcy’s Diary. Thanks Girl!

Título: Mr. Darcy’s diary
Autora: Amanda Grange
Editora Sourcebooks, 320p.

Darcy consegue impedir sua irmã Georgiana de fugir com Mr. Wickham. Após esse infeliz acontecimento, ele parte para Netherfield com o amigo Mr. Bingley. No baile de Meryton, ele conhece a família Bennet. Sem demonstrar interesse por Elizabeth Bennet, ele passa a admirar a moça quando eles convivem brevemente em Netherfield, por ocasião da doença de Jane Bennet. Após um breve período de tempo, em que Mr. Darcy não consegue esquecer os belos olhos de Elizabeth, eles se encontram em Rosings e Darcy faz o desastroso pedido de casamento. Aturdido com a recusa da moça, ele passa a reconsiderar seus valores e sonha em ter Elizabeth como esposa, mesmo que ele considere isso impossível. Até sua querida tia Lady Catherine de Bourgh se intrometer. Finalmente, Darcy e Lizzie se casam e partem para Pemberley.

The Mr. Darcy’s diary. Quando li o título desse livro, minha curiosidade foi ao auge. O que poderia ser mais interessante do que tudo que li em Orgulho e Preconceito do ponto de vista de Mr. Darcy????? Adorei o livro inteiro.
A convivência dos dois, como tudo o mais, é retratado fielmente por Darcy em seu diário. É muito bom poder ver mais do estilo de escrita dele em suas cartas, principalmente NA carta. Ah, a carta… Os autores de sequels se preocupam bastante com a redação da carta que ele escreve para Elizabeth justificando suas atitudes. Ao mesmo tempo em que ele escreve, o leitor percebe a agonia de Darcy durante a escrita de cada parte. E o fato do livro ser um diário só tornou essa parte mais interessante, porque em outras sequels, nós vemos indiretamente seu tormento. Sempre achei que nessa carta ele abria seu coração como se estivesse escrevendo algo que só ele fosse ler (como um diário). Então, o livro expressa seus pensamentos e a carta se torna uma extensão dele (do diário).
Outro fato que gostei bastante foi o Coronel Fitzwilliam abrindo seus olhos logo no dia seguinte ao pedido, fazendo Darcy pensar no modo totalmente errado que fez sua proposta, o que abre outra brecha. Nunca pensei, lendo O&P, que o Coronel soubesse do acontecimento em Rosings. Mas Amanda Grange consegui me fazer pensar que isso ocorreria, dado o testemunho que o coronel pode dar acerca do que Darcy escreveu na carta.
Outro fato que recomenda muito esse livro: Anne, prima de Darcy e sua “prometida”, finalmente toma uma atitude frente às imposições da mãe. Lady Catherine simplesmente tem que aceitar que sua filha, longe de ser uma jovem doente, também ama e tem vontade própria. O desfecho para ela e para o Coronel Fitzwilliam não foi o que eu imaginava, mas mesmo assim adorei.
De modo geral, esse livro é muito recomendado. Poder conhecer os mais íntimos pensamentos de Darcy e seus sentimentos em relação aos seus amigos, sua família e principalmente a Elizabeth Bennet me fizeram amá-lo cada vez mais. E consolidou sua posição em primeiro lugar na minha lista de heróis austenianos (e literários).

Title: Mr. Darcy’s diary
Author:
Amanda Grange
Sourcebooks, 320p.

Darcy manages to prevent his sister Georgiana to get away with Mr.Wickham. After this unfortunate event, he goes to Netherfield with his friend Mr. Bingley. In Meryton ball, he knows the Bennet family. Showing no interest in Elizabeth Bennet, he begins to admire the girl when they live briefly in Netherfield, when Jane Bennet’s gets sick. After a brief period of time, in which Mr. Darcy can not forget the beautiful eyes of Elizabeth, they are at Rosings and Darcy makes a disastrous marriage proposal. Stunned by the refusal of the girl, he begins to reconsider their values and dreams of having Elizabeth as his wife, even though he considers it impossible. Until his beloved aunt Lady Catherine de Bourgh to intrude. Finally, Darcy and Lizzie get married and leave for Pemberley.


The Mr. Darcy’s Diary. When I read the title of this book, my curiosity was at its height. What could be more interesting than anything I’ve seen in Pride and Prejudice from the perspective of Mr. Darcy??? I loved the whole book.

The coexistence of the two, like everything else, is faithfully portrayed by Darcy in his diary. It’s great to see more of his writing style in his letters, especially in THAT letter. Ah, the letter … The authors of sequels are concerned enough with the wording of the letter he wrote to Elizabeth justifying their actions. While she writes, the reader realizes the agony of Darcy during the writing of each party. And the fact that the book is a diary only made this most interesting, because in other sequels, indirectly we see his torment. I always thought that in this letter he opened his heart as if he were writing something that only he were to read (like a diary). So, the book expresses his thoughts and the letter becomes an extension of it (the diary).

Another fact that I really liked was Colonel Fitzwilliam opening Darcy’s eyes the next day to the request, making Darcy think about the totally wrong way he made his proposal, which opens another loophole. I never thought, reading P&P, that Colonel knew of the event in Rosings. But Amanda Grange managed to make me think that this would happen, given the testimony that the colonel can give about what Darcy wrote in the letter.
Another factor that strongly recommends this book: Anne, Darcy’s “promised” cousin, finally takes a stand against the impositions of her mother. Lady Catherine simply have to accept that her daughter, far from being a ill young lady, also loves and willingly. The outcome for her and Colonel Fitzwilliam was not what I expected, but still loved it.
Overall, this book is highly recommended. Get to know the most inner thoughts of Darcy and his feelings toward his friends, his family and especially Elizabeth Bennet made me love him even more. It consolidated its first position on my list of Jane Austen’s (and literary) heroes.

Mr. Darcy’s obsession (Abigail Reynolds)


 Desta vez a Natallie Chagas nos apresenta o livro Mr. Darcy’s Obsession. Muito obrigada Natallie!

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Título: Mr. Darcy’s obsession
Autora: Abigail Reynolds.
Editora Sourcebooks, 368p.

Desde que Darcy soube que Elizabeth está vivendo em Londres, não tem mais jeito. Ele pensa nela o tempo todo. Com alguma ajuda de um menino chamado Charlie, ele começa a espionar Elizabeth, só para saber quais são suas condições de vida. O que ele não parece saber é que esse conhecimento constante vai torná-lo mais apaixonado por ela do que nunca.

O livro de Abigail Reynolds começa com um desabafo de Bingley, que revela a Darcy que Mr. Bennet está morto e é por isso que Lizzie está vivendo em Londres e Jane está casada com um comerciante, desta forma fora do alcance de Bingley.
Darcy não consegue tirar Elizabeth de sua cabeça, e logo começa a procurar saber sobre ela. Ele paga um menino chamado Charlie para espionar Elizabeth. Ao descobrir que ela vai caminhar todas as manhãs em Moorsfield, ele não consegue se controlar. Após uma breve reunião, a única coisa que ele pode fazer é esperar pelo dia seguinte. Elizabeth, também, passa muito tempo pensando sobre seus encontros agradáveis.
Depois de Bingley decidir deixar a tola e fútil sociedade londrina, Darcy começa a pensar sobre sua vida. O desejo incontrolável de ter Elizabeth como senhora de Permberley apenas cresce com os dias, mas ele ainda não consegue virar as costas para a “boa” sociedade. Até …

Esse livro tem tudo que uma sequência de Jane Austen precisa ter: paixão, mal-entendidos e personagens com os sentimentos mais poderosos. Somos apresentados a personagens que, apesar de não aparecerem no romance original, não prejudicam o enredo do livro. Pelo contrário, só tornam-no mais divertido. Os personagens originais também não mudaram: Lydia continua a mesma garota tola e inconsequente, Georgiana ainda é uma menina doce e o Coronel Fitzwilliam continua sendo um homem agradável.
Mr. Darcy’s obsession é um dos melhores livros que eu já li. Apresentando um Mr. Darcy mais do que nunca apaixonado, o livro é muito recomendado para todas aquelas que sonham com o herói romântico mais encantador de Jane Austen.

Title: Mr. Darcy’s obsession
Author: Abigail Reynolds.
Sourcebooks, 368p.

Since Darcy knew that Elizabeth is living in London, he can’t help himself. He thinks of her all the time. With some help of a boy named Charlie, he starts to spy on Elizabeth, just to know what her conditions of life are. What he doesn’t seem to know is that this constant knowledge will make him more in love with her than ever.
The Abigail Reynolds book opens with a outflow of Bingley, who reveals to Darcy that Mr. Bennet is dead and thats why Lizzie is living in London and Jane is married to a shopkeeper, this way out of Bingley’s reach.
Darcy can’t take Elizabeth out of his mind, and soon begins to find out about her. He pays a boy named Charlie to spy on Elizabeth. Discovering that she goes walking all mornings in Moorsfield, he can’t stop himself. After a brief meeting, the only thing he can do is await the next day. Elizabeth, too, spends a lot of time thinking about their pleasant meetings.
After Bingley take the resolution of leaving the foolish and futile London society, Darcy begins to think about his life. The incontrolable desire of having Elizabeth as mistress of Permberley just grows with the days, but he still can’t turn his back to the “good” society. Until…

This book has everything a Jane Austen sequel must have: passion, misunderstandings and characters with the most powerful feelings. We are introduced to characters who, despite not appear in the original novel, not affect the plot of the book. Instead, just make it more fun. The original characters also have not changed: Lydia is still the same silly and inconsequential girl, Georgiana is still a sweet girl and Colonel Fitzwilliam continues to be a nice man.
Mr. Darcy’s obsession is one of the best books I’ve ever read. Introducing a Mr. Darcy more than ever in love, the book is highly recommended for all those who dream of the most charming romantic hero of Jane Austen.

Gazeta de Longbourn Apresenta: Confessions of a Jane Austen Addict/Rude Awakenings of a Jane Austen Addict

“I do not know how I have come to be in this time, in this place, in this body. But I do know that any place where there are six novels by the author of Pride and Prejudice must be a very special sort of heaven.”

Ao início de Confessions of a Jane Austen Addict, após terminar o compromisso com o noivo que a traía, seguida de uma concussão e um porre de vodca, Courtney Stone acorda num quarto que não lhe pertence. Pior: ela também está num corpo que não lhe pertence. Aparentemente, o álcool estava vencido ou talvez a batida na cabeça tenha sido mais forte do que ela imaginara, porque repentinamente Courtney era Jane Mansfield, vivendo numa mansão no interior da Inglaterra à época da publicação de Orgulho e Preconceito.

A princípio, Courtney acredita que está vivendo algum sonho – ou pesadelo, a depender do ponto de vista. Pouco a pouco, contudo, ela percebe que não, ela não está dormindo e sim, ela viajou no tempo, trocou de corpo e está vivendo a vida de outra pessoa, num cenário que em tudo lembra seus romances favoritos – com direito inclusive a mães manipuladoras, cavalheiros misteriosos de casaca e estadias em Bath.

Só que o passado não é apenas flores. Acostumada às facilidades da vida moderna, Courtney se vê às voltas com costumes e situações impensáveis em sua Los Angeles original – a falta de água encanada, a mania dos médicos de sangrarem seus pacientes, a etiqueta sufocante.

Viver na Inglaterra dos romances de Austen não é nada fácil. Especialmente quando você tem um Mr. Edgeworth para confundi-la ainda mais e começa a ter memórias de uma vida que não é bem a sua.

Mas não basta ver como Courtney se vira para se adaptar à vida que teoricamente, era a de seus sonhos – especialmente depois de ter o coração partido pelo noivo mau-caráter. Afinal, o que aconteceu com a verdadeira Jane Mansfield?

A resposta vem em Rude Awakenings of a Jane Austen Addict.

Enquanto Courtney foi parar no período da Regência, Jane está em seu corpo, em sua vida e, a depender das amigas, prestes a ser forçada a entrar na terapia. A salvação de Jane é Wes, melhor amigo de Frank (o ex-noivo), que no final das contas se revela apaixonado pela mocinha.

Nessa confusão de identidades, memórias, passado e presente, o que mais me divertiu foi ver como Courtney e Jane iam se adaptando à realidade em que tinham caído, acostumando-se pouco a pouco com um ritmo de vida que era completamente diferente para cada uma delas.

As duas viviam profundamente insatisfeitas com suas vidas, com suas aspirações, consigo mesmas. Esse talvez tenha sido um dos poucos pontos que me irritou nas duas histórias – eu acho que após passarem pela troca, elas deveriam ter enfrentado cada uma seus próprios problemas e não simplesmente ‘deletarem’ uma vida passada e todas experiências que as moldaram ao longo da vida.

Mas se filosoficamente não concordo com a forma como elas terminam, isso não me tirou o prazer da leitura dos dois livros. Divertidos e inteiramente familiares para todos os fãs de Austen – vocês certamente serão capazes de encontrar muitas passagens que revisitam os temas habituais de nossa autora favorita – Confessions e Rude Awakenings são uma boa pedida se você está procurando algo mais leve para ler no fim de semana. Ou para levar nas férias, que já estão à vista…

* Lu Darce (JASBRA-PE) está à cata de uma máquina do tempo para organizar uma excursão à mansão dos Mansfield – mandei uma carta para Mr. Wells, mas ele ainda não me respondeu. Enquanto esperamos, essas e outras viagens, vocês podem encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Realismo e Burguesia em Jane Austen: Persuasão

Olá pessoal, o texto abaixo foi publicado anteriormente no blog Literatura Etc. Como estamos em meio a uma pequena discussão lá na comunidade da JASBRA no Facebook decidi publicá-lo aqui também.

Escrito pela inglesa Jane Austen e publicado postumamente em 1818, Persuasão foi o último romance da escritora e, embora tenha sido escrito muito antes do advento da escola realista, pode-se captar em sua obra muitas das características do realismo.


Advinda da sociedade burguesa da época, é comum encontrarmos em seus romances um retrato e uma crítica à burguesia e seus valores, de onde surgem os temas principais de Persuasão. Na sociedade burguesa, era muito difícil que alguém mudasse de classe social, sendo que os menos privilegiados viviam à margem da sociedade, sem possibilidade de alcançar uma posição social mais elevada.

Uma das poucas soluções para se conseguir uma elevação de classes era através do matrimonio com alguém da alta sociedade. Embora as famílias abastadas não aceitassem que seus filhos se casassem com pessoas de classe inferior, muitos eram os golpes.

A persuasão também é uma temática bastante presente no livro – a ponto de o romance levar este título – e na burguesia retratada, pois muitas vezes as pessoas eram aconselhadas e até forçadas a deixarem seus valores e sentimentos de lado para representar um papel imposto pela sociedade. Anne é uma personagem que sofre com isso, acabando por trocar suas convicções pela sugestão de sua madrinha. Assim é que ela acaba desistindo do casamento com Wentworth. 
Deveria ter feito uma distinção – replicou Anne – Não deveria ter suspeitado de mim, agora; o caso é tão diferente, minha idade, outra. Se errei uma vez ao ceder à persuasão, lembre-se de que foi por esta ser exercida em favor da segurança, e não do risco. Quando me submeti, pensei que era este o meu dever; mas nenhum dever poderia ser chamado em auxílio no caso. Ao me casar com um homem indiferente a mim, incorreria em todos os riscos, e violaria todos os deveres. (AUSTEN, 2007, p. 289)

A partir dessa reflexão de Anne somos levados a avaliar a importância e a força da persuasão, se ela seria uma força negativa ou positiva agindo no romance e na vida das personagens. Esses temas, trabalhados como foram por Jane Austen em Persuasão, dão créditos de realidade ao texto, pois fazem parte dos valores das pessoas que viviam na época. São temas e tramas da vida real trazidas à literatura.


Outras coisas que não deixam a deseja no romance são as descrições. característica muto comum do realismo, as descrições de Jane Austen beiram a perfeição:
E como não houvesse nada para se admirar, o olhar do visitante se voltava para a invejável localização da cidade, a rua principal quase se precipitando na água, o passeio ao Cobb, suas antigas maravilhas e novos melhoramentos, com a linda linha de rochedos estendendo-se para leste da cidade. E seria um estranho visitante quem não visse encantos nas redondezas de Lyme, nem tivesse vontade de conhecê-la melhor! As paisagens nas suas redondezas, Charmouth, com suas terras altas e grandes extensões de campos, e ainda a suave baía retirada, emoldurada por escuros penhascos, onde fragmentos de rochas baixas, entre a areia, tornam-na o local mais propício para observar o fluxo da maré e sentar-se em incansável contemplação; as diferentes variedades de árvores da alegre vila de Up Lyme, e, principalmente, de Pinny, com suas verdes ravinas por entre tochas românticas, onde esparsas árvores de floresta e hortas luxuriantes indicam que muitas gerações se passaram desde a primeira queda parcial do rochedo preparasse o campo nesse aspecto, onde surge um cenário tão maravilhoso e adorável, que bem pode igualar qualquer paisagem da tão famosa ilha de Wight: esses lugares devem ser visitados e revisitados, para se compreender o valor de Lyme. (Idem, p. 125, 126)


A Persuasão de Jane Austen

Texto escrito por Raquel Santos Silva
É o último romance acabado de Jane Austen, que não viveu para o ver publicado, nem sequer para o intitular. Persuasão é uma obra pouco complexa, tendo como pano de fundo uma crítica à sociedade do século XIX, com uma heroína sensata e uma bonita história de amor, num jogo de persuasões e ilusões que nos leva de uma ponta à outra do romance mais depressa do que inicialmente esperávamos. E, no meio de tudo isto, sobressai Anne Elliott. É impossível não gostar dela.
Sir Walter Elliott vive com as filhas Elizabeth e Anne em Kellynch-hall, até ser obrigado a alugar a propriedade e mudar-se para Bath. No entanto, Anne decide ficar e passa uma temporada em Uppercross, com a irmã mais nova, Mary, a única já casada, onde reencontra o amor de adolescência, o agora Capitão Frederick Wentworth. Entre aventuras em Lyme e convívios em casa da família Musgrove, Anne relembra o passado e sofre por ter rejeitado Frederick, que não parece querer perdoá-la.
Sob o olhar atento de Anne, Austen caracteriza e caricatura, como é nela habitual, algumas das personagens do romance. É o caso das próprias irmãs, fúteis, mesquinhas, mais preocupadas com a condição social do que com o intelecto – sobretudo a mais velha, Elizabeth. O mesmo acontece com o pai, um baronete falido para quem importam apenas a aparência, a opinião alheia e as boas companhias.
Para continuar lendo o texto da Raquel, clique aqui.

Captain Wentworth’s diary (Amanda Grange)

Olá todo mundo! Meu nome é Natallie Chagas. Paraense, leitora inveterada, dona do blog Meu Cantinho Literário, leio de tudo um pouco. Apaixonada por Jane Austen faz algum tempo, tento transmitir essa paixão pela autora Pará afora. Como minha primeira contribuição ao blog, escolhi a resenha do livro Captain Wentworth’s diary. O motivo? Bom, leiam e vocês vão saber 🙂

Título: Captain Wentworth’s diary
Autora: Amanda Grange
Editora Berkeley Trade, 304p.

Anne, always Anne. 

 O jovem Frederick Wentworth conhece Anne Elliot em uma pequena reunião. Ele primeiro pensa que ela é dama de companhia de Elizabeth Elliot, mas logo descobre seu engano. Primeiro com a intenção de flertar com Anne (sem dúvida, penalizado com a situação da moça desconsiderada pelo pai e pela irmã), mas o jeito delicado de Anne o encanta. Encontros casuais fazem com que a afeição por ela cresça a cada dia. Nesse meio tempo, Lady Russel começa a perceber a (e desgostar da) atenção que Wentworth dá a Anne sempre que eles estão no mesmo local. Mesmo ciente desse fato, o então comandante resolve não desistir de Anne. Então, ele a pede em casamento. Anne aceita e seu pai consente (em termos não muitos amigáveis). A felicidade é enorme, até a moça cancelar tudo. Graças à Lady Russel. Wentworth a confronta, mesmo magoado. Ele parte. 
Anos depois, agora já capitão, Wentworth recebe um convite da irmã para se hospedar na casa dela, antiga propriedade de Sir Elliot. Suas lembranças afloram, e mesmo tentando parecer indiferente ao destino de Anne, ele não consegue segurar sua curiosidade. Ele fica feliz ao descobrir quem realmente é Mrs. Musgrove. Finalmente, eles se encontram novamente, mas tudo que Wentworth pode sentir é desgosto, pois Anne não demonstra mais ter todo o brilho que um dia ele conheceu. Vendo a constante desatenção sofrida pela moça, ele tem vontade de defendê-la. Mesmo conversando com outros e sendo requisitado por todos, sua atenção permanece com Anne. Wentworth começa a perceber que continua dedicando a moça os mesmos sentimentos de antes. Mais do que isso, seus sentimentos agora também são contraditórios: raiva, frustração, esperança. E ciúmes, muito ciúmes. Até finalmente perceber que Anne nunca saiu de sua cabeça e que ele continua querendo-a como esposa. 

Me surpreendi quando ele primeiramente pensou em Anne como um simples flerte. Mesmo que ele estivesse penalizado pela pouca consideração que o pai e a irmã tinham dela, fiquei com raiva porque isso não parecia um bom motivo para flertar (ato que eu considero, ao ler as novelas de Austen, como um homem querendo se divertir à custa dos sentimentos de uma jovem) e acabei me lembrando de Wickham e Willoughby. 
Outra coisa que me irritou terrivelmente foi Lady Russel. Mesmo que suas intenções tenham sido as melhores, já que Anne era muito jovem, não consigo deixar de pensar nos motivos que a levaram a aconselhar Anne a não se casar. No confronto que se segue, adoro a menção à inconstância de sentimentos femininos e masculinos, discussão em Persuasão que eu me derreto todas as vezes que leio. Outro ponto alto: Wentworth estava desesperançado com a inconstância de Anne e queria se apaixonar por uma jovem determinada. Achando que fosse encontrar isso em Louisa Musgrove, mais tarde percebe que uma determinação incansável pode não ser, afinal de contas, uma grande qualidade. Como se não precisasse de mais nada para ele direcionar seu pensamento para Anne. Também gostei de Amanda ter mantido Wentworth como o homem determinado e com os sentimentos intensos (os quais só temos real consciência na carta) que Jane Austen nos presenteia. Um livro muito bom, uma leitura maravilhosa. Muito recomendado.