Título: So you think you know Jane Austen
Autores: John Sutherland e Deirdre Le Faye
Editora Oxford University, 240 p.
Deirdre Le Faye
Em memória de Jane Austen
“I have lost a treasure, such a Sister, such a friend as never can have been surpassed,- She was the sun of my life, the gilder of every pleasure, the soother of every sorrow, I had not a thought concealed from her, & it is as if I had lost a part of myself…”“Perdi um tesouro, uma irmã, uma amiga assim nunca deveria ter nos deixado. Ela foi o sol da minha vida, abrilhantava todos os prazeres, era o consolo para todo tipo de sofrimento, não sei se conseguirei viver sem ela, é como se tivesse perdido uma parte de mim…”
As cartas de Austen foram compiladas em um livro, por Deidre Le Faye, clique aqui para comprá-lo (R$ 58,00 na Livraria Cultura).
Nova edicão de Jane Austen’s Letters
Preface to Fourth Edition
List of Letters
Jane Austen’s Letters
Topographical Index
As Cartas de Jane Austen
“Não há nada que eu tenha lido naquelas cartas que possa ser interessante para o público. Elas são bem escritas, devem ter algum interesse para quem as recebeu, mas elas contêm detalhes de momentos de vida doméstica e familiar, sendo que raras vezes ela [Jane Austen] expressa sua própria opinião. Por isso, para estranhos elas podem não revelar o que se passava pela sua mente – eles não vão sentir que a conhecem melhor por terem lido suas cartas”.
Assim escreveu Caroline, sobrinha de Jane Austen, ao irmão James Edward Austen-Leigh, quando este estava escrevendo a biografia de sua tia, Memoir of Jane Austen. Assim como sua irmã, Austen-Leigh também não se mostra muito entusiasmado, e alerta seus leitores para que “não esperem muito” das cartas, pois estas tratam apenas de “detalhes da vida doméstica”. Segundo a especialista Carol Houlihan Flynn, apenas recentemente os estudiosos começaram a enxergar nas correspondências de Jane Austen algo mais do que simples descrições do dia-a-dia, e passaram a considerá-las como um importante recurso para compreender os costumes do meio em que Austen viveu, assim como para entender melhor suas obras.

Um grave problema que envolve as cartas de Jane reside no fato de sua irmã Cassandra ter destruído parte das cartas e ter subtraído trechos das correspondências remanescentes. Segundo a estudiosa Deirdre Le Faye, Cassandra assim procedeu para proteger a memória de sua irmã e de sua família, pois provavelmente Jane descrevia em detalhes sintomas de doenças, como quando a Sra. Austen adoeceu na ausência de Cassandra, ficando aos cuidados de Jane; por isso, o trecho de uma carta do ano 1798 foi cortado. Outro motivo plausível seria o fato de Jane fazer críticas a outros membros da família, pois em uma carta datada de outubro de 1813, Jane escreve: “Como me referi aos meus sobrinhos com um pouco de amargura na minha última…” O restante do trecho foi suprimido, e Jane segue elogiando os sobrinhos por terem comungado no dia anterior. A última carta a que Jane se refere não sobreviveu, pois Cassandra provavelmente quis poupar os sobrinhos da crítica feita pela tia.
Segundo Le Faye, as correspondências eram como telefonemas trocados entre as irmãs, ou seja, “apressadas e elípticas, uma mantendo a outra informada dos acontecimentos domésticos e ocasionalmente fazendo comentários sobre as novidades do dia, tanto locais como nacionais”. Le Faye dá ainda maiores detalhes de como Jane e Cassandra costumavam se corresponder:
“Quando as irmãs estavam separadas, escreviam uma para a outra a cada três ou quatro dias – uma carta começava imediatamente após a anterior ser enviada. Há sempre, primeiro, uma carta de Jane contando a Cassandra sobre o trajeto de casa até o destino; em seguida, uma série de cartas falando a respeito dos acontecimentos do dia no lugar visitado, e uma ou mais cartas falando dos preparativos para o retorno ao lar. Se Cassandra é quem viaja, então a primeira carta é de Jane dizendo que espera que a irmã tenha feito uma boa viagem; na sequência, Jane conta como vai a vida em casa; e as últimas cartas falam de Jane esperando que a irmã tenha um retorno rápido e confortável”.
As cartas de Jane Austen ainda não se encontram traduzidas para o português, mas há edições em inglês, como a famosa Letters of Jane Austen (Brabourne Edition) – primeira edição das cartas de Jane Austen, de 1884, organizada por Lord Brabourne, filho da sobrinha de Jane, Fanny Knight – lançada pela Cambridge Library Collection. A Brabourne Edition também pode ser lida na página The Republic of Pemberley. Outra importante edição é a Jane Austen’s Letters, organizada por Deirdre Le Faye. Há ainda a seleção de cartas da Oxford World’s Classics e várias outras.
Para escrever o presente post, além de ter utilizado como fonte bibliográfica a referida edição de Deirdre Le Faye, utilizei também o artigo The Letters, de Carol Houlihan Flynn, publicado no livro The Cambridge Companion to Jane Austen.
O Retrato de Mrs. Q
A capa da mais recente tradução do livro Persuasão, lançado pela editora Martin Claret (que Adriana Zardini comentou aqui), chamou a nossa atenção. Trata-se de um retrato intitulado Mrs. Q ou Portrait of a Lady (desenho de J.F.M. Huet-Villiers e gravura do poeta inglês William Blake), exibido esse ano no Morgan Library and Museum de Nova York, como parte da exposição A Woman’s Wit: Jane Austen’s Life and Legacy. A pintura – que representa Mrs. Harriet Quentin, esposa de um certo Coronel Quentin e amante do então Príncipe de Gales – desperta a curiosidade pelo fato de ter sido considerada por Jane Austen como a imagem mais próxima que ela tinha em mente da personagem Jane Bennet, de Orgulho e Preconceito. Em 24 de maio de 1813, Jane, hospedada na casa do seu irmão Henry, em Londres, escreveu para sua irmã Cassandra:
Henry e eu fomos à Exposição em Spring Gardens. Não é considerada uma boa coleção, mas gostei muito – particularmente (por favor, conte a Fanny) de um retrato da Sra. Bingley, muito parecido com ela. Tive ainda a esperança em encontrar um de sua irmã, mas não havia nenhuma Sra. Darcy, talvez eu a encontre na Grande Exposição, para a qual devemos ir, se tivermos tempo (…) O retrato da Sra. Bingley é exatamente igual a ela: tamanho, formato do rosto, as feições e a suavidade; nunca vi tamanha semelhança. Ela usa um vestido branco, com ornamentos verdes, o que me convence daquilo que eu sempre presumi, que verde era a cor que lhe caía melhor. Ouso dizer que a Sra. D. ficaria melhor de amarelo.

No entanto, Deirdre Le Faye, especialista em Jane Austen, em seu livro Jane Jane Austen’s Letters, afima que apesar de Mrs. Q ser provavelmente o retrato ao qual Jane se referia, outras opções não devem ser descartadas, como as miniaturas do pintor Charles John Robertson (uma delas pode ser vista acima) exibidas na mesma exposição. Quanto à heroína de Persuasão, Anne Eliot, Jane parece não ter deixado nenhuma indicação de qual retrato se aproximaria mais daquilo que ela imaginava.
Cozinhando com Jane Austen
Preço: 13 Euros
Autora: Ana da Costa Cabral
Na linha de A Cozinha do Senhor dos Anéis, a autora preparou um livro que recria os ambientes culinários presentes em todos os romances de Jane Austen. Cozinha da Sensibilidade e do Bom Senso – Cozinha da Jane Austen é um livro único em Portugal, é uma investigação sobre a gastronomia e tradições do séc. XIX, adaptado à realidade moderna.Lado a lado com a receita surge uma citação, como é habitual na colecção Receitas da Avó Rosalina — Série Especial.
Entre as muitas atrações para os leitores modernos de Austen estão os detalhes domésticos que tanto embelezam seus romances, além disso, quer algo mais delicioso que um chá? O chá não era apenas uma bebida nos tempos de Austen, mas também um ingrediente chave para rituais sociais, e suas cartas e livros estão cheios de referências a respeito da compra, preparo, como eram servidos e bebidos os chás. Neste livro, os leitores encontrarão diversas citações de Austen sobre chás, além de uma excelente pesquisa sobre o chá na época de Jane e sobre a maneira como este era tomado em diferentes horas do dia e ambientes variados.
A comida é um dos elementos centrais em seus romances, assim como era algo comum na Inglaterra nos tempos de Austen. Assim como suas estórias continuam cativando leitores modernos, seu mundo repleto de cafés da manhã e banquetes capturam a imaginação dos leitores contemporâneos. Muitos dos fãs de Austen com certeza sentiriam muito prazer em recriar refeições descritas nos livros de Austen, do mesmo modo que alunos do ensino médio apreciarão os trabalhos de Austen aprendendo também sobre tradição culinária. O livro transporta o leitor, através de 200 receitas, à Inglaterra de Austen and traz este mundo às nossas cozinhas. O livro traz capítulos introdutórios a respeito de cozinha e alimentação na época de Jane Austen. Em seguida apresenta capítulos sobre carnes, frutos do mar, doces, pastas e bebidas. Cada capítulo inclui citações de Austen e citações de livros de culinária da época, acompanhados de receitas modernas fáceis de seguir.
Preço: 17,95 dólares
Autores: Maggie Black e Deirdre Le Faye
A primeira metade do livro é cheia de análises sobre os amigos, livros e cartas de Austen. A segunda parte contém as receitas, as quais em sua grande maioria foram adaptadas para a culinária moderna. O que foi mais difícil de se adaptar foi a torta de pombo! O trabalho de Maggie Black e Deirdre Le Faye oferece uma deliciosa visão da vida social e costumes da Inglaterra do século 19.
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* Traduções do inglês para o português realizadas a partir dos textos disponíveis no site da ww.amazon.com