O tempo, o espaço e até mesmo o plano existencial nos separam Mas o amor transcende a tudo E nada obstante, eu, mero leitor, em pleno Século XXI, das obras de Jane Austen Encontro-me sob os efeitos de avassaladora paixão por Fanny Price A doce e querida protagonista do romance Mansfield Park! Dirão que é loucura! Loucura? Só porque com ela danço e sinto os seus braços Em linhas do livro que só eu mesmo vejo? Só por jurar saber do sabor dos seus beijos? Ora, caríssimos, o amor – esta força insolente Que brota do âmago de nossos corações – é, de fato, Uma loucura! Isso, entre nós, é praticamente um consenso! Então por que me negar mergulhar nessa insanidade E amar loucamente a minha doce e querida Fanny? Permitam-me suspirar com seus doces olhos claros, Sua amabilidade de gestos, sua irretocável retidão de caráter, Sua pureza de sentimentos e seus inigualáveis sorrisos! Deixem-me que chore por todos aqueles que não enxergam Os óbvios encantos de seu maravilhoso ser!
Antes de mais nada, eu gostaria de pedir desculpas à turma do Clube do Livro JASBRA/PE pela (imensa) demora em vim postar as fotos e o relato de nosso último encontro… estive realmente mais enrolada que carretel de linha (inclusive ajudando a organizar detalhes do encontro nacional – novidades em breve!) e por isso não pude me sentar antes para escrever essas linhas…
Mas estou aqui agora e vamos tratar do que interessa, não é mesmo?
Nos encontramos no dia 16 de setembro, na Saraiva, para debater Mansfield Park. Como sempre, foi uma reunião bem animada, mas dessa vez, outros talentos se revelaram em nosso meio. Para abri o encontro, nosso amigo Michel declamou todo seu amor pela personagem Fanny Price.
E essa declaração foi devidamente filmada.
Com a permissão do Michel, vou postar o poema à parte, com todo o destaque que merece, mais tarde (os papéis estão em casa e em casa estou sem conexão…). Seja como for, depois de um início tão emocionante, começamos os trabalhos…
E que bom debate! Confesso que fiz as vezes de advogada do diabo (ou Mrs. Norris, como disseram ao final…), mas foi bom ver o pessoal defendendo tão veementemente a senhorita Price. Mansfield Park não costuma ser um favorito entre os leitores de Austen, mas o fato é que rendeu uma ótima e rica discussão, com muitos excelentes pontos levantados, tanto do caráter do elenco de personagens do livro até o contexto de muitas das situações levantadas ao longo da história – incluindo aí a sempre polêmica menção ao regime escravocrata, inclusive na forma como essa pequena passagem do livro ganhou realce na adaptação Palácio das Ilusões.
Agora, aqui que estão me pedindo desde sempre… FOTOS!
Nossa próxima reunião do Clube deve ser em dezembro. A data ainda não está fechada, mas por escolha da maioria presente, ficou decidido que vamos ler Muito Barulho por Nada, de Shakespeare (e eu que nem queria há tempos fazer um debate do bardo!). Ano que vem a agenda terá A Abadia de Northanger e Persuasão, nessa ordem (e um terceiro livro ainda a decidir, mas deixemos isso para ano que vem, né?)
Sendo assim… já podem começar a ler e se preparar para nossa próxima farra!
Passando para lembrar que nosso próximo encontro em Recife será para debater Mansfield Park. Dia 16 de setembro, à partir das 14h, na Livraria Saraiva do Shopping Recife. Nos encontramos lá!
At last it was time for me to claim Fanny, and I found her with relief.
‘I am worn out with civility,’ I confessed, as I led her on to the floor. ‘I have been talking incessantly all night, and with nothing to say. But with you, Fanny, there may be peace. You will not want to be talked to. Let us have the luxury of silence.’
She smiled in silent sympathy, and I found it a great solace to be able to dance with her.
How different was our silence to the one that had fallen between Miss Crawford and myself, for that had been angry and not at all comfortable. But then, Fanny is one of my oldest friends, and it would be a strange day, indeed, if I should ever find myself at outs with her.
Bem… isso foi curioso… Dos romances da Austen, Mansfield Park é o que menos gosto (gosto de todos, mas todo mundo tem suas preferências…), e no entanto… no entanto, Edmund Bertram’s Diary foi meu diário favorito da série da Amanda Grange até agora (isso porque ainda falta ler o do Mr. Tilney e sempre gostei muito do Tilney…).
Irritava-me profundamente a forma como Bertram ficava totalmente cego por Mary e machucava Fanny e como ela se calava e deixava que ele – que tecnicamente era o moço bom, puro e generoso, avesso da turminha muitas vezes indigesta da família – pusesse sal nas feridas já abertas.
Ler agora o ponto de vista do Edmund fez-me sentir mais caridosa e benevolente em relação ao moço. A despeito de sua fascinação com Mary, ele nunca esquece a amizade e afeto por Fanny. O tempo todo em que lia, eu torcia por Edmund, para que ele pudesse abrir logo os olhos e enxergar o que estava bem diante de seu nariz, para que ele não sofresse tanto.
Comparativamente aos outros mocinhos da Austen, Edmund parece bastante sem sal. Ele não é um herói galante que arranca suspiros, que nos fascina com seu mistério, ou seu porte, ou sua sagacidade.
A verdade, contudo, é que ele é… companheiro. Acho que essa é a palavra e esse é o encanto dele. Ele é companheiro, fiel aos seus princípios, gentil e afetuoso. E a Grange transporta essas qualidades para todas as relações de Edmund – com os irmãos, com os amigos, com os pais. A forma como ela escreveu ele com Tom, o carinho e a lealdade que Edmund tem para com o irmão mais velho é para te deixar sorrindo feito bobo.
Edmund Bertram’s Diary é um retrato simpático e terno de um personagem que, muitas vezes, deixamos de lado por não corresponder às nossas noções de handsome, dashing gentleman. Ele não nos oferece paixões violentas, mas antes a certeza de um amor tranqüilo e constante. Sereno, mas nem por isso menos intenso.
* Lu Darce (JASBRA-PE) quase esqueceu de postar isso aqui hoje, mas deve ser desculpada porque ainda está meio fora do tempo. Esse e outros esquecimentos, você pode encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.
A Universidade de Oxford disponibiliza em sua página Bodleian Libraries quatro edições de Jane Austen (1883) publicadas pela Editora Routledge. As publicações online fazem parte de um projeto da universidade com a Google. Clique abaixo para fazer o download dos livros.
Descobri hoje cedo dois podcasts com o professor Richard De Ritter (University of Leeds) que faz uma análise interessantíssima a respeito de Mansfield Park!
Este post de hoje é dedicado a uma amiga, que por motivos de trabalho e distância, não nos encontramos com tanta frequência e sequer temos tempo para assistir aos filmes e séries baseados em Austen como fazíamos entre 2007 e 2008! Me deu saudades daquele tempo!
Hoje descobri meio que por acaso algumas ilustrações baseadas nos livros de Austen. O artista é o Cecil Doughty e suas ilustrações fazem parte da Revista Look and Learn, que ilustraram um guia para autores e seus livros: Quando Jane Austen veio para o chá (When Jane Austen came to tea). As imagens abaixo foram publicadas em 3 de outubro de 1964.
Vejam que bela ilustração de Fanny Price e Edmund Bertran (ao fundo)!
Curiosamente a revista não faz menção à Persuasão! É uma pena… as ilustrações de Cecil são muito bonitas! Fiquei curiosa para ver uma imagem de Anne Elliot e o Capitão Wentworth!
Eu convidei a Rita Paschoalin (Blog A Estrada Anil) para publicar aqui no blog da JASBRA as resenhas que ela escreveu sobre os livros de Austen. O primeiro texto de Rita é sobre Mansfield Park:
Venho lendo Mansfield Park lentamente, como é de meu feitio. Ainda que tivesse intenção de devorar o livro rapidamente, não teria tempo para fazê-lo, não agora que fevereiro já avançou e a rotina engrenou de vez. Não reclamo nada, nada. Doses diárias de J. Austen não me fazem nenhum mal e mesmo as menores delas me trazem a sensação já familiar de encantamento. Quando o tempo me permite, mudo-me para Mansfield Park onde já transito com desenvoltura pela casa, entendo aquele olhar de Edmund e morro de rir com os tropeços da vaidade em pessoa, Mrs. Norris. Também desprezo Henry e temo pelo caos que Mary Crawford pode trazer à vida de minha queridíssima heroína Fanny. Já sou de dentro, sou da casa. Há dias em que avanço não mais que duas páginas e ainda assim sei que encontrei nelas mais beleza do que em alguns livros inteiros que li vida afora. Ainda que sejam páginas descritivas, de narrativa mais lenta, nada em Austen me é enfadonho. Sua escrita é uma pintura expressionista: enche meus olhos.
Hoje Fanny guardou um pequeno bilhete interrompido, duas linhas, não mais, como se fosse uma joia. A primeira “carta” que ela recebeu na vida, entregue em mãos pelo autor. Enquanto espio a cena, como se estivesse escondida num cantinho do quarto onde ela se passa, vejo seu rosto apreensivo e confuso. É maravilhoso ler seus pensamentos, saber da inteireza de sua angústia. Se eu pudesse, sei que não resistiria e cochicharia do alto da página, bem baixinho: “ah, Fanny, espere, não tema, você está em boas mãos” e estragaria todo o suspense. Ainda bem que não posso. E toco o passeio pelas palavras-tintas de Austen.
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“To her, the hand-writing, independent of anything it may convey, is a blessedness. Never were such characters cut by any other human being, as Edmund’s commonest hand-writing gave! This specimen, written in haste as it was, had not a fault; and there was a felicity in the flow of the first four words, in the arrangement of ‘My very dear Fanny,’which she could have looked at for ever.” (ownnnnnnnnn…. sweet!)
Onde mais se lê coisa tão linda sobre a caligrafia da criatura? 🙂
Desde o início deste blog, em fevereiro de 2008, eu venho divulgando os livros de Austen, em formato de áudio, do site Librivox. Desta vez, minha sugestão é uma leitura dramatizada de Mansfield Park! Para fazer o download dos arquivos desta versão, clique aqui.
Todos os seis livros principais de Jane Austen estão disponíveis no Librivox (em diferentes formatos e leituras), incluindo alguns trabalhos da juvenília. Clique aqui para ver a lista.
Vejam os detalhes abaixo dos atores/narradores de Mansfield Park – versão dramatizada:
Deverá estar ligado para publicar um comentário.