O Insólito em A Abadia de Northanger

A JASBRA e SEPEL-UERJ convidam: Simpósio sobre O Insólito em A Abadia de Northanger (Jane Austen), coordenado por Adriana Zardini. O simpósio faz parte do V FELLI (Fórum de Estudos em Língua e Literatura Inglesa), VIII Painel Reflexões sobre o Insólito na narrativa ficcional e II Encontro Regional O Insólito como Questão na Narrativa Ficcional.

Local do Evento: Instituto de Letras da UERJ – 3 a 5 de novembro de 2010
11 andar, Pav. João Lira Filho, Campus Maracanã, Rio de Janeiro.

Veja aqui o cartaz provacativo que criamos (é só clicar no vídeo para assistí-lo):

Veja aqui a programação completa dos simpósios e comunicações.
Abaixo apresento os destaques relacionados a Jane Austen:
Programação das Sessões de Comunicações Livres – 3 de novembro – quarta-feira
10:45 – 12:15 – Lidil 4

– A fantasia (nada) insólita: romantização da vida, vampiros e lobisomens – Virgínia Lima dos Santos Levy (UERJ)

– Intertextualidades em “Frankenstein”, de Mary Shelley – Maiara Alvim de Almeida (UFJF)
– Orgulho e preconceito e zumbis: o insólito revelado pelo mashup literário – Bianca Deon Rossato (UPF)

Programação das Sessões de Simpósios – 4 de novembro – quinta-feiraSala 11.038F
13:30 – 15:30  –

O Insólito em A Abadia de Northanger (Jane Austen)


– As influências góticas em A Abadia de Northanger – Adriana Sales Zaridni (JASBRA/ UFMG) – Coordenadora

– O medo como elemento da análise e as reações dos personagens em A Abadia de Northanger – Amanda de Miranda Gomes de Almeida (JASBRA/ UNIP)

– O ilusório em A Abadia de Northanger – Priscila Silva Murlik (JASBRA/ FAPA)

– A imaginação de Catherine como principal elemento insólito em A Abadia de Northanger – Elaine Rodrigues (JASBRA/ FEUDUC)

Além de Austen, serão apresentados trabalhos a respeito do Insólito nas obras de Shakespeare, Clarice Lispector, Jorge Luis Borges, Edgar A. Poe, J. R. R. Tolkien, Bram Stocker, C. S. Lewis, Paul Auster, Samuel Beckett, entre outros.

Para quem quiser participar do evento como ouvinte basta fazer inscrição aqui:

Valores para ouvintes – veja como realizar o pagamento aqui.
UERJ – até dia 3/11 – R$ 15,00
Externo – até dia 3/11 – R$ 20,00

Artefatos raros em Winchester

Artefatos raros da vida de Jane Austen, incluindo poemas escritos à mão e as primeiras edições de seus livros, estão em exposição em Winchester.

A Catedral de Winchester, onde a escritora está sepultada, começou um a exposição que vai até dia 20 de setembro. Sendo o primeiro de uma série de eventos em comemoração do bicentenário da morte de Jane Austen em 2017.
A exibição, ao lado de sua sepultura, mostra poemas escritos por Jane Austen sobre sua amiga Mrs Lefroy, as primeiras edições de Emma em três volumes de 1816, além de Northanger Abbey e Persuasion publicados juntos em 1818. Está também na exposição a nota escrita à mão pelo irmão de Austen, Henry, com as orientações sobre a inscrição que se encontra hoje no túmulo de Jane Austen.
Os poemas e a nota escrita por Henry pertencem à Winchester College. Esses artefatos nunca sairam da faculdade desde que foram doados à instituição na década de 30.

O Feminismo em A Abadia de Northanger

O artigo O Feminismo em A Abadia de Northanger de Austen, indicado pela Adriana Zardini, foi publicado originalmente em inglês no periódico online Artifacts, da Universidade do Missouri, Estados Unidos. Escrito por Sara Whitecotton, o texto identifica o pensamento feminista dentro da obra A Abadia de Northanger, de Jane Austen. Whitecotton relaciona o romance às ideias da escritora inglesa Mary Wollstonecraft (1759-1797) considerada pioneira do feminismo por ter escrito Uma Defesa dos Direitos da Mulher (1790). A obra é uma reposta ao médico e escritor moralista escocês Dr. John Gregory (1724-1773), que escreveu O Legado de Um Pai Para Suas Filhas (1761), um tratado sobre a educação feminina. Abaixo, segue a tradução que fiz do artigo:


O Feminismo em A Abadia de Northanger de Austen


Mary Wollstonecraft e o Dr. John Gregory

Em Uma Defesa dos Direitos da Mulher, Mary Wollstonecraft responde à obra O Legado de Um Pai Para Suas Filhas, do Dr. John Gregory, onde é discutida a sua visão sobre o comportamento adequado que uma mulher deve apresentar. As ideias de Wollstonecraft ecoam na visão de Austen de que as mulheres são indivíduos com capacidades intelectuais e criativas iguais as dos homens. Tanto em A Abadia de Northanger como em Uma Defesa dos Direitos da Mulher, as duas autoras questionam costumes sociais convencionais e afirmam que as mulheres devem agir racionalmente por elas mesmas, em vez de tentar simplesmente agradar ao sexo oposto.


O romance A Abadia de Northanger de Austen não é explicitamente descrito como feminista, mas ao retratar Catherine, Austen questiona o tipo feminino ideal na literatura. A individualidade de Catherine manifesta-se na primeira página do romance, onde Austen descreve a personagem principal como sendo tudo, menos uma heroína. “Catherine gostava de todas as brincadeiras de meninos, e tinha grande preferência pelo cricket… aos prazeres mais heróicos da infância, como cuidar de um arganaz, alimentar um canário, ou regar flores” (Austen 5). A extraordinária consciência de si que o romance possui fica patente na sátira que faz das banalidades da literatura gótica convencional, enfatizando que Catherine não é uma típica heroína e que Austen rejeita o conformismo feminino. Embora Catherine pareça muito diferente das outras heroínas de Austen por não ser especialmente inteligente, ela demonstra ter um bom discernimento em vários momentos do romance. Por não gostar de John Thorpe, Catherine mostra que pode pensar por si mesma e que não irá sucumbir às pressões sociais para se unir a ele. Catherine também acredita que casar por dinheiro é uma prática revoltante. Por ser tão comum em sua época, tal atitude também mostra que Catherine tem capacidade de formar as suas próprias opiniões, rejeitando as convenções aristocráticas por acreditar estarem erradas. Esta habilidade revela-se por si mesma quando Catherine recusa-se a entrar na mesma carruagem de Thorpe e seu irmão. Ela não permite ser manipulada e mostra verdadeiras características de uma heroína ao afirmar “se eu não pude ser persuadida a fazer o que considerava errado, eu nunca serei levada a fazê-lo” (Austen 68). Ao retratar Catherine como uma personagem não-convencional, Austen rejeita os costumes sociais convencionais para as mulheres e tenta modificá-los através de seus escritos.


A mensagem imprescindível em defesa da racionalidade das mulheres torna-se evidente em A Abadia de Northanger através da sátira do louvor à estupidez feminina. A voz do narrador serve como plataforma onde Austen pode apresentar o seu ponto de vista. Embora o narrador pareça concordar com a visão de outros autores de que as mulheres devem esconder a sua inteligência, as afirmações no romance significam exatamente o oposto de suas palavras. A famosa citação “uma mulher, especialmente se ela tem o infortúnio de saber alguma coisa, deve esconder o que sabe o quanto puder” (Austen 76) é evidente que não reflete o que Austen realmente pensava. Ao dizer coisas como estas, Austen zomba de outros autores que realmente acreditavam em tais bobagens. A escritora diretamente mostra isso quando afirma “as vantagens da tolice natural em uma bela garota já foram mostradas pela importante pena de uma autora” (Austen 76). Austen diminui os conselhos que as mulheres recebiam de homens como o Dr. John Gregory e afirma que as mulheres deveriam usar seus cérebros. Além disso, ao retratar a senhora Allen como uma mulher materialista e estúpida, Austen só faz ridicularizar mais ainda esse tipo de mulher. A senhora Allen é o perfeito retrato da esposa submissa e dependente que os homens aconselhavam as mulheres a se tornarem. A sua “mente vazia e a incapacidade para pensar” (Austen 40) permite que ela interaja com o sexo oposto com a habilidade “de administrar a vaidade dos outros” (Austen 76). Homens como Henry Tilney deleitavam-se com a ignorância porque permitia a eles que mostrassem seus conhecimentos ensinando às mulheres ingênuas. A visão de Austen sobre as capacidades intelectuais das mulheres em A Abadia de Northanger são ainda enfatizadas por Mary Wollstonecraft em Uma Defesa dos Direitos da Mulher.


Pelo fato do texto de Mary Wollstonecraft não ser em forma de romance como o de Austen, ela tem o poder de dizer exatamente o que pensa em resposta à obra de Gregory, O Legado de Um Pai Para Suas Filhas. Fazendo uso de sua própria voz e não a de um narrador, Wollstonecraft reprova o conselho de Gregory de que as mulheres deveriam ser “cautelosas ao demonstrarem… bom senso” (Gregory 221). Como Austen, Wollstonecraft acredita nas capacidades intelectuais das mulheres para pensar, assim como no seu direito de exercê-las. Ela também rejeita muitas convenções aristocráticas que privam as mulheres de agirem como elas gostam, tais como “o decoro serve para suplantar a natureza e banir toda simplicidade e variedade de caráter que não fizerem parte do mundo feminino”. Sem dúvida, o argumento mais convincente de Wollstonecraft que coincide com o d’A Abadia de Northanger é o de que a mulher não deveria fazer todas as vontades fúteis dos homens. Gregory afirma que certos homens talvez “vejam com olhos ciumentos e malignos uma mulher com muitos talentos e uma inteligência desenvolvida” (Gregory 221), no entanto, “um homem com um verdadeiro caráter e integridade é muito superior a essas baixezas” (Gregory 221). Wollstonecraft argumenta que se homens sem reais qualidades comportam-se dessa maneira, não há razão para as mulheres não demonstrarem seus dotes intelectuais diante de “tolos, ou homens… que não têm muito do que reclamar” (Wollstonecraft 224). Em vez de sempre tentar agradar aos homens, as mulheres devem falar e agir como desejarem, e um homem digno não deixará de amá-las pelo simples fato de pensarem. As ideias de Wollstonecraft ecoam na visão de Austen de que as mulheres não precisam constantemente agir de maneira diferente para cada tipo de pessoa, “isso seria bom se elas fossem somente companhias agradáveis ou razoáveis” (Wollstonecraft 225).


Tanto Wollstonecraft como Austen sustentavam pontos de vista incomuns para mulheres de sua época. Para elas, o comportamento apropriado para uma mulher parecia ilógico e exaustivo. Ambas argumentavam a favor das capacidades racionais das mulheres e acreditavam fortemente que elas tinham o direito de exercê-las. Austen usa em A Abadia de Northanger técnicas literárias, como caracterização e ponto de vista com o intuito de enfatizar suas ideias, enquanto que Wollstonecraft usa a sua própria voz. A despeito dos meios que as duas autoras utilizam para demonstrar suas opiniões, ambas opõem fortemente o conformismo feminino às normas sociais e acreditam que as mulheres são iguais aos homens em suas capacidades intelectivas.


Obras citadas:


Austen, Jane. Northanger Abbey. Ed. Susan Fraiman. New York: W.W. Norton & Company, 2004. 5-174.


Gregory, Dr. John. “From A Father’s Legacy to His Daughters.” Northanger Abbey. Ed. Susan Fraiman. New York: W.W. Norton & Company, 2004. 220-222.


Wollstonecraft, Mary. “From A Vindication of the Rights of Woman.” Northanger Abbey. Ed. Susan Fraiman. New York: W.W. Norton & Company, 2004. 222-225.

Segure-se… lá vem mais uma!

Acabo de saber que a Vera Nazarian publicará mais um livro de mistério e suspense em parceria com Jane Austen! Nossa… Jane nunca teve tantos parceiros como ultimamente! Vera é autora do Mansfield Park and Mummies, já mencionado aqui no blog.
O novo título é: Northanger Abbey and Angels and Dragons – A Abadia de Northanger e os anjos e dragões. Acho que a capa abaixo é provisória:
Fonte: Norilana

Novo calendário de discussões – Clube de Leitura

Para quem não começou a ler ou está atrasado nas discussões agora terá uma oportunidade de começar o ano com tudo em dia! Após uma sugestão do Hitoshi e muitos participantes do Clube de Leitura Jasbra terem concordado, decidimos fazer um recesso no final de ano. Sendo assim, apresento agora o novo calendário de dicussões do livro A Abadia de Northanger:

JANEIRO
10 – Retomada dos capítulos já lidos e discutidos – Capítulos 1 – 8
17 – Capítulos 9 – 16
24 – Capítulos 17 – 20
31 – Capítulos 21 – 24
FEVEREIRO
 07 – Capítulos 25 – 28
14 – Capítulos 29 – 31
21 – Discussão final

O mais importante: para participar do clube de leitura, você deve se inscrever no Jasbra Groups aqui.

O Natal nos livros de Austen

Como o dia de hoje é um dia festivo, vale à pena resgatar um post do ano passado sobre o assunto!
Ilustração de Alan Wright
O Natal só foi proclamado feriando nacional na Inglaterra após 1834 – dezessete anos depois da morte de Jane. Porém, durante a vida de Jane já havia uma observância da data e as pessoas costumavam saudar umas às outras com desejos alegres e afetuosos, repletos de rituais, supertições e idas à Igreja. No entanto, o natal celebrado por Jane e seus contemporâneos em nada se parece com o que vivemos: correria e tumulto em lojas, pois na época não havia o apelo comercial para a data.
Eu fiz uma busca em 6 livros da Jane e encontrei em todos citações sobre a data:
“… This is quite the season indeed for friendly meetings. At Christmas every body invites their friends about them, and people think little of even the worst weather. I was snowed up at a friend’s house once for a week. Nothing could be pleasanter. I went for only one night, and could not get away till that very day se’nnight.” Chapter XIII – EMMA
“A verdade é que esta é a estação do ano mais adequada para as reuniões amistosas. No Natal todo mundo convida a seus amigos e a gente não se preocupa muito com o tempo, embora seja muito frio. Estava nevando e fiquei sitiado na casa de um amigo por uma semana. Nada poderia ser mais agradável. Eu fui para permanecer por uma noite, e não pude sair por sete dias seguidos.”
“… Luckily the visit happened in the Christmas holidays, when she could directly look for comfort to her cousin Edmund; and he told her such charming things of what William was to do, and be hereafter, in consequence of his profession, as made her gradually admit that the separation might have some use. Edmund’s friendship never failed her…” Chapter II – MANSFIELD PARK
“… Felizmente isto se deu justamente nas férias de Natal, de forma que Fanny pôde encontrar consolo junto ao primo Edmund; e ele lhe falou com tanta simpatia de William, das coisas formidáveis que ele iria fazer em razão da profissão que abraçara, que finalmente ela se convenceu de que a separação só poderia lhe ser útil. A amizade de Edmund por ela foi sempre sincera…”
“… The very first day that Morland came to us last Christmas–the very first momentI beheld him–my heart was irrecoverably gone…” Chapter XV – NORTHANGER ABBEY
No Natal passado, no dia em que o Morland veio à nossa casa, assim que o vi, o meu coração ficou irremediàvelmente perdido de amor.
“… They had left Louisa beginning to sit up; but her head, though clear, was exceedingly weak, and her nerves susceptible to the highest extreme of tenderness; and though she might be pronounced to be altogether doing very well, it was still impossible to say when she might be able to bear the removal home; and her father and mother, who must return in time to receive their younger children for the Christmas holidays, had hardly a hope of being allowed to bring her with them…” Chapter XIV – PERSUASION
Quando vieram embora, Louisa já se sentava, mas a sua cabeça, embora lúcida, estava extremamente fraca, e os seus nervos demasiado sensíveis; e, embora se pudesse dizer que, de um modo geral, a recuperação decorria muito bem, ainda era impossível dizer quando estaria em condições de suportar a viagem de regresso a casa; e o pai e mãe, que tinham de voltar a tempo de receber os filhos mais novos para as férias de Natal, acalentavam poucas esperanças de a trazerem com eles.
“… I sincerely hope your Christmas in Hertfordshire may abound in the gaieties which that season generally brings, and that your beaux will be so numerous as to prevent your feeling the loss of the three of whom we shall deprive you …” Chapter XXI – PRIDE AND PREJUDICE
Desejo-lhe sinceramente que o Natal em Hertfordshire seja cheio de alegrias próprias que esta estação geralmente traz, e que não lhe faltem admiradores, para que não sinta a ausência dos três que lhe privamos.
“… I remember last Christmas at a little hop at the park, he danced from eight o’clock till four, without once sitting down …” Chapter IX – SENSE AND SENSIBILITY
Lembro-me de que no Natal passado, em ocasião de um pequeno baile no parque, ele dançou das oito horas da noite até as quatro da manhã, sem sentar-se nem uma vez sequer.

Resultado do sorteio

Peço à todos desculpas pelo atraso! Finalmente fiz o sorteio do livro: A Abadia de Northanger e a sortuda foi Tatiana Maria (número 29). Fiz o sorteio em um site que gera um número aleatório a partir dos dados que inserimos. Tatiana, você poderia entrar em cotato comigo, por favor?

Não se esqueçam que começamos neste final de semana as discussões sobre o livro no Jasbra Clube de Leitura!

O que Jane Austen faria?

Parece título de livro, mas não… é um texto que a Mariana Fonseca (membro do JASBRA) traduziu de um artigo do Wall Street Journal.

O Que Jane Faria?

Como uma solteirona do século XIX serve como guia moral no mundo de hoje
por James Collins
(publicado no site do Wall Street Journal em 14 de novembro de 2009)
Jane Austen é muito divertida. Suas personagens são vívidas. O equilíbrio de suas sentenças é perfeito. Seus enredos são bastante bons – pelo menos, eles mantêm você lendo. No entanto, escrever romances brilhantes não era o objetivo principal de Jane Austen: O que era mais importante para ela era fornecer instrução moral.
Em sua essência, os livros de Austen são trabalhos morais. “Abadia de Northanger” é na verdade sobre a educação moral de Catherine Morland: Ela aprende que o mundo não funciona de acordo com os princípios de um romance gótico. Como o título indica, “Razão e Sensibilidade” é um conto moral: É a história do autocontrole de Elinor e do comodismo de Marianne. O evento central tanto em “Orgulho e Preconceito” quanto em “Emma” é a descoberta de cada heroína sobre sua própria fraqueza moral. “Mansfield Park” trata de todo tipo de questão moral, da decência no envolvimento com o teatro amador até as conseqüências do abandono do marido por um outro homem. A premissa de “Persuasão” é a de que Anne Elliot um dia sacrificou sua felicidade por cumprir o seu dever e obedecer a orientação de sua guia moral, Lady Russell. Assuntos relativos à moral não são apenas refletidos nos maiores temas dos livros, entretanto: Eles são universais. Até mesmo o menor ato ou o mais breve diálogo ou a mera descrição da maneira de vestir de uma personagem é carregado de conteúdo moral.
Os leitores de hoje tendem a apreciar Austen apesar de seu didatismo e, não, por causa dele. Ela pode ser positivamente pedante e isso é um obstáculo. O leitor contemporâneo que ama Jane Austen quase pula as partes moralistas e diz a si mesmo que elas não contam realmente. É possível ignorar esse aspecto de seu trabalho, assim como é possível discutir uma pintura religiosa sem qualquer referência à intenção religiosa do artista. Mas isso parece absurdo: Ignorar a preocupação central de uma escritora é uma estranha forma de tentar apreciá-la e entendê-la.
A questão é, então, como conciliar o moralismo de Austen com a sensibilidade moderna. Para discursar sobre esse problema, seria conveniente se pudéssemos encontrar alguém com essa sensibilidade moderna que realmente lê Austen por sua instrução moral (em adição ao prazer literário que ela proporciona). Que conveniente termos à nossa disposição alguém que se encaixa nessa descrição: eu.
Eu acho que ler Jane Austen me ajuda a elucidar escolhas éticas, a descobrir um meio de viver com integridade no mundo corrupto e até a adotar o tom e a maneira adequados ao lidar com os outros. Seu moralismo e a mentalidade moderna não estão, de fato, em oposição direta, como é tão freqüentemente suposto.
Dizer que alguém valoriza a instrução moral de Austen pode provocar ceticismo porque, afinal, ela era uma solteirona vivendo na Inglaterra provinciana há 200 anos. Mas nossos mundos não são tão diferentes. Nós vemos as personagens de Austen – vaidosas, egoístas, ingênuas, compassivas – em nossas vidas todos os dias. O tempo e a localização dela são, na verdade, uma vantagem. Em seu mundo circunscrito, os problemas da vida podem ser examinados com uma precisão mais aguçada.
Austen viveu na divisão das eras augustana do século XVIII e romântica do século XIX. No nosso tempo, quase toda canção, propaganda ou filme é baseado em princípios românticos. Não importa o quanto apreciemos as “felicidades da vida doméstica”, como Austen coloca em “Persuasão”, ainda sentimos o enorme impulso romântico para fazer alguma coisa mais heróica ou intensa. Ao invés de estarmos aproveitando um bom jantar enquanto conversamos com amigos, nós deveríamos estar lá fora forjando a consciência de nossa raça na oficina de nossa alma, ou algo assim. Eu realmente não quero forjar a consciência da minha raça, mas, ao mesmo tempo, não quero perder tudo o que o Romantismo oferece. É aí que entra Austen, pois ela é uma augustana familiarizada com o Romantismo, o que a torna mais útil do que um escritor moderno para nos ajudar a encarar o desafio romântico. Só ela pode, com credibilidade, mostrar a nós que é possível ter moderação e sentimentos profundos, bons jantares e boa poesia.
Quais são, então, os valores que Austen nos ensinaria? Palavras e frases carregadas de valor aparecem a todo momento em sua obra, freqüentemente aos montes: auto-conhecimento, generosidade, humildade, elegância, decência, constância, contentamento, bom entendimento, opinião correta, conhecimento de mundo, coração cálido, estabilidade, observação, moderação, candura, sensibilidade ao que é cordial e amável.
A instrução moral de Austen aponta para uma vida mais moral – em que “moral” se refere não apenas a princípios corretos, mas à conduta em geral. O sistema de valores de Austen pode ser tido como uma esfera com camadas. O centro poderia ser chamado de “moralidade”, a camada seguinte seria a “emoção” e, finalmente, a superfície, “conduta”. Moralidade consiste nos princípios fundamentais: auto-conhecimento, generosidade, humildade, compaixão, integridade.
A ênfase que Austen dá à ordem e ao decoro pode parecer seca e rígida. Mas qualquer um que leia “Mansfield Park” sentirá o mesmo alívio de Fanny diante da mudança da estrondosa desordem da casa de sua família em Portsmouth para a ordem da mansão. Da mesma forma, a consideração de Austen pelo autocontrole, especialmente expressa em “Razão e Sensibilidade”, pode parecer dura, mas é preciso lembrar como a autora claramente vê o sentimentalismo de Marianne com grande compaixão. Austen não está defendendo a supressão dos sentimentos – apesar de seu irrepreensível comportamento, Elinor é submetida a grandes sofrimentos e sente cada um deles profundamente. O que Austen está dizendo, como um psicólogo moderno pode recomendar, é que se deve evitar a desintegração da própria personalidade. Emoções são construídas sobre a fundação de nossa moralidade: um coração adorável, sensibilidade a tudo o que é amável. A conduta, por outro lado, tem a ver com comportamento, com o modo como trabalhamos no mundo: boa educação, maneiras suaves. Certamente ainda é necessário ter modelos de bom senso e conduta honrada expostos a nós.
Como a moralidade, a emoção e a conduta podem ajudar alguém a viver no mundo? Como deveriam ser as relações entre as pessoas e o mundo? Deve-se rejeitar o mundo inteiramente como corrupto e mercenário e hipócrita e superficial? Ou há um outro caminho, em que se podem manter a integridade e a sensibilidade, mas viver no mundo também? W. H. Auden colocou bem o problema quando escreveu:
“Será que a vida só oferece duas alternativas: ‘Você pode ser feliz, saudável, atraente, sociável, um bom amante e um bom pai, mas com a condição de que não seja curioso demais sobre a vida. Por outro lado, você pode ser sensível, consciente do que está acontecendo ao seu redor, mas, nesse caso, você não deve esperar ser feliz, ou bem sucedido no amor ou em casa com qualquer companhia. Existem dois mundos e você não pode pertencer a ambos.’”
De fato, Austen está perguntando se a vida oferece apenas as duas alternativas de “Razão e Sensibilidade” e podemos simpatizar com seu grito de desespero, pois quando o dilema é colocado da maneira como ele o faz, as duas parecem inconciliáveis.
Austen vem a nosso resgate, entretanto, visto que ela consegue se ajustar entre “Razão e Sensibilidade”, rejeitando os excessos de ambas. Sua postura agrada porque a combinação de moralidade, emoção e conduta proporciona um modo de vida que permite estar no mundo e desfrutar dos benefícios da sensibilidade também. Austen não escreve sobre boêmios e rebeldes; ela não quer mudar seu mundo – “ela não mudaria um fio de cabelo na cabeça de ninguém ou moveria um tijolo” como Virginia Woolf escreveu. Suas simpáticas personagens participam plenamente de sua sociedade e aceitam as convenções dela, e ainda têm corações e mentes perfeitamente bons. Bom senso não precisa estar em guerra com a sensibilidade.
Ironia não é apenas o modo de expressão característico de Austen: É seu modo característico de pensamento. A ironia de Austen reflete um perfeito entendimento de todos os meios pelos quais o mundo é ordinário e a crença de que, apesar de não podermos lutar contra isso, podemos, pelo menos, separamo-nos disso. Em suas sentenças irônicas, há movimento com estabilidade. Ela se move em direção ao objeto de suas críticas, e então se afasta dele, e aí proporciona um bom retrato no final. Essa movimentação rítmica serve como um ideal tanto para a aceitação quanto para a rejeição dos meios do mundo ordinário enquanto se mantém o equilíbrio.
A ironia das personagens de Austen também fornece àqueles de nós que acreditam no decoro uma forma de lidar com os hipócritas. Elinor Dashwood de “Razão e Sensibilidade” é raramente irônica, mas ela nos serve como um bom exemplo. Lembre da conversa quando o odioso John Dashwood, que havia traído a promessa feita no leito de morte patriarcal de ajudar suas meias-irmãs, sugere a Elinor que a Sra. Jennings lhes deixará uma herança. Elinor responde, “De fato, irmão, sua preocupação pelo nosso bem-estar e prosperidade o levam muito longe”. Faltam a John Dashwood generosidade e integridade. Elinor o insulta, mas ela o faz da maneira mais cortês possível.
Se alguém quiser argumentar que a moralidade de Austen é útil para uma pessoa que vive nos dias de hoje, precisará lidar com três casos difíceis. Primeiro, há a objeção de Fanny ao teatro amador em “Mansfield Park”. Então, em “Razão e Sensibilidade” há a recusa de Elinor a lutar pelo homem que ela ama, Edward Ferrars, quando ela sabe que ele está oficialmente comprometido com Lucy Steele, uma mulher que “unia a insinceridade à ignorância”. Finalmente, há o reconhecimento de Anne Eliot em “Persuasão” de que ela fez a coisa certa seguindo os ditames de Lady Russel para recusar o Capitão Wentworth, mesmo que isso tenha levado a anos de penúria sem amor para ambos. Nos três casos, Austen defende uma moralidade que parece quase absurda em sua rigidez. Qual é o grande problema com o teatro? Sustentar o princípio de honra vale a pena quando ele resulta em relacionamentos ruins e arrependimento? E que tipo de sistema de valores coloca a obediência antes do amor?
Tavez a rigidez de Austen seja muito antiquada, mas qualquer um pode encontrar mérito nos conceitos de honra, dever e obediência. Essas cordas ficaram tão frouxas que não há nada errado em apertá-las com uma leitura indulgente desse aspecto de Austen; elas afrouxarão novamente logo.
Para encerrar rapidamente os casos de Elinor e Anne, direi apenas que suas ações devem ser vistas no contexto de suas próprias crenças sinceras. A lição é de que às vezes é certo sacrificar alguma coisa que queremos pelo bem de nossa consciência.
Com Fanny Price quase parece que Austen decidiu criar uma personagem que não tem nem boas maneiras nem personalidade, mas é simplesmente moralidade crua. Ela é famosa por desagradar os leitores, mas suas ações e atitudes podem ser justificadas. Apesar de toda sua timidez, ela tem coragem de verdade. Ela se opõe aos outros quando eles querem que ela participe da peça e ela até resiste ao terrível ataque de fúria de Sir Thomas quando ela recusa a proposta de casamento de Crawford. É raramente reconhecido que Fanny está correta. O perigo da encenação é que ela deixa jovens homens e mulheres juntos em um ambiente com grande carga sexual e, de fato, eles realmente acabam levados ao resultado que Fanny temia: Henry Crawford e Maria Rushworth escapam juntos. Então Fanny não está simplesmente aderindo a uma regra arbitrária e tola sobre a decência ou não do teatro amador, ela está tentando evitar uma condição que realmente termina causando dor de verdade.
Os princípios de Jane Austen são de valor transcendente, eles não são “pedantes” e seus romances ilustram e defendem um modo de viver no mundo que é ético, sensível e prático. O melhor representante para o mérito da aproximação de Austen da vida é, entretanto, a própria Austen. O reflexo da primeira sentença de “Orgulho e Preconceito” pode ser vislumbrado sob ela. “É uma verdade universalmente reconhecida que uma mulher solteira com pouco dinheiro deve estar à procura de um marido.” Não há nada irônico nisso: No tempo de Austen essa realmente era uma verdade universal. A condição de Austen como uma mulher solteira sem dinheiro e já não tão jovem era, como ela coloca na descrição da Srta. Bates em “Emma”, estar “na pior situação do mundo para ter a simpatia das pessoas”. Como essa frase indica, entretanto, Austen era capaz de olhar para a própria situação friamente, claramente e sem auto-comiseração. Os romances carregam a estabilidade, o equilíbrio, a indulgência e o humor de sua criadora. Ao lê-los, a pessoa é envolvida na personalidade dela, a personalidade que podemos desejar adotar para nós mesmos, pois parece esclarecer muitos dos costumes, problemas e outras coisas da vida

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James Collins é escritor e editor, cujo primeiro romance, “Beginner’s Greek”, foi lançado esse ano. Esse texto foi adaptado de “A Truth Universally Acknowledged”, uma antologia de ensaios sobre o porquê de lermos Jane Austen, publicada no início dessa semana pela Random House.

Sorteio de A Abadia de Northanger

Pessoal, para incentivar a participação de todos no clube de leitura do Jasbra, faremos um sorteio do livro A Abadia de Northanger para aqueles que não possuem o livro.

Dessa vez, o sorteio será mais simples: é só deixar o nome completo na seção de comentários abaixo. Farei o sorteio manualmente no sábado 28/11/2009. Boa Sorte!! Só tem uma condição: participar das discussões do Jasbra Groups.

Fiquem atentos às datas:

DEZEMBRO
06 – Capítulos 01 a 04
13 – Capítulos 05 a 08
20 – Capítulos 09 a 12
27 – Capítulos 13 a 16
JANEIRO
03 – Capítulos 17 a 20
10 – Capítulos 21 a 24
17 – Capítulos 25 a 28
24 – Capítulos 29 a 31
31 – Discussão final

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Jasbra Clube de Leitura

Jasbra Clube de Leitura

Prezados leitores, temos a satisfação de convidá-los para o nosso clube de leitura. Nossa temporada de leitura começa com o primeiro livro que Jane enviou para publicação (embora não tenho sido o primeiro a ser publicado). Nossa intenção é acompanhar o desenvolvimento artístico de Jane começando pelo primeiro que ela considerou pronto para publicação. Não vamos começar com Razão e Sensibilidade, pois apesar desse livro ter sido escrito no mesmo período de A Abadia de Northanger, a autora fez alterações e deu seu trabalho por concluído em 1811. Explicações dadas, agora é hora de detalhar nosso calendário! Vamos realizar discussões semanais, o prazo final será sempre o domingo:
DEZEMBRO
06 – Capítulos 01 a 04
13 – Capítulos 05 a 08
20 – Capítulos 09 a 12
27 – Capítulos 13 a 16
JANEIRO
03 – Capítulos 17 a 20
10 – Capítulos 21 a 24
17 – Capítulos 25 a 28
24 – Capítulos 29 a 31
31 – Discussão final
Como faltam duas semanas para as começarmos as discussões, aqueles que ainda não possuem o livro terão tempo de comprá-lo ou procurá-lo em uma biblioteca! Além disso, faremos um sorteio do livro, na semana que vem. Aguardem o post com os detalhes!
O mais importante: para participar do clube de leitura, você deve se inscrever no Jasbra Groups aqui.
Se tiver dúvidas deixe um recado ou envie um e-mail para adriana@jasbra.com.br