Gazeta de Longbourn – Duty and Desire

A Gazeta de Longbourn apresenta: mais uma resenha fresquinha de Luciana Darce (representante da JASBRA-PE): Duty and Desire

Of this he was certain: to be in her presence was to know delight in a more vivid sense than ever he had before

Começando de forma bem sincera: em comparação com o volume anterior, An Assembly Such As This, esse segundo volume da trilogia da Aidan deixa um bocado a desejar. Esse livro segue Darcy no período entre sua partida de Netherfield e sua chegada em Rosings. Assombrado pela imagem de Lizzie, ele volta para Pemberley, a fim de passar o período natalino com Georgiana, parte para Londres, onde continua semeando a dúvida na cabeça de Bingley sobre a força da afeição de Jane Bennet e por fim segue para uma festa na casa de um antigo colega de faculdade, onde as coisas parecem estar um pouco mais complicadas do que aparentam. A primeira parte da história vai bem na forma como mostra a preocupação de Darcy com a irmã, que só àquela altura estava começando a se livrar da depressão que o episódio com Wickham provocou; bem ainda como sua interação com a família – o Coronel Fitzwilliam, o Conde e a Condessa de Matlock, bem como seu irmão mais velho e herdeiro do título. Sua ânsia por Elizabeth, seu sonhar acordado com a moça caminhando por entre os corredores de Pemberley, e inclusive sua conversa com Georgiana sobre ela – tudo isso antes que ele pudesse, de fato, reconhecer para si mesmo o que sentia – são os pontos altos do livro. A questão é que esses pensamentos e desejos assustam Darcy, especialmente frente ao seu ‘dever’ de casar bem, com uma moça de família, fortuna e respeitável, que lhe possa dar um herdeiro à altura do sobrenome que há de carregar. E eis então que ele decide sair à caça de uma esposa, aceitando o convite de um antigo colega para ir visitá-lo num velho castelo no meio do nada, onde várias senhoritas de boa posição estão reunidas para uma festa. Só que o convite do amigo é uma armadilha que tem a ver com passar a meia irmã irlandesa para frente a fim de conseguir uma pequena fortuna para pagar os débitos advindos do jogo. E no meio você tem senhoritas despeitadas que foram no passado ignoradas por Darcy e agora querem vingança. E a coisa toda ressoa muito mais o clima gótico de A Abadia de Northanger (com direito a todas as intrigas pelas quais Catherine apenas pode suspirar) do que Orgulho e Preconceito. Enfim, esse é um volume de transição e embora eu possa entender algumas das escolhas que Aidan faz para que a história siga seu curso – os motivos que ao final levam Darcy a aceitar seus sentimentos e arriscar-se com Lizzie – a forma como ela construiu esses fatos não me agradou. Agora é partir para o último volume da trilogia e torcer para que ela consiga voltar a nos encantar como na primeira parte da saga.

Gazeta de Longbourn – Jane Austen Made Me Do It

A Gazeta de Longbourn apresenta: mais uma resenha fresquinha d da Luciana Darce (representante da JASBRA-PE): Jane Austen Made Me Do It

É uma verdade universalmente conhecida que se não fosse por vampiros, lobisomens, zumbis e Jane Austen, eu não estaria nesse momento do lado de fora do gabinete do Diretor Oakes, enquanto ele, minha mãe, meu pai e a Senhora Pilkington, a conselheira, discutem meu Problema. Eles deixaram a porta entreaberta, pensando que eu ouviria o que estava acontecendo, perceberia que estava encrencado e faria um acordo, tal como uma semana de detenção em vez de terminar suspenso. Mas até que eles consigam DNA, a Quinta Emenda é o melhor amigo de um garoto de quatorze anos.

Estava bastante ansiosa para falar desse livro, uma vez que me diverti imensamente lendo-o. Os contos que compõem essa antologia são quase todos de autores que eu já conhecia e cujo contato tinha sido bastante satisfatório – estão lá Amanda Grange, Stephanie Barron, Pamela Aidan e inúmeros outros. As histórias vão de um extremo a outro num piscar de olhos. Há vários fantasmas, algumas tantas ‘cenas deletadas’, peças do período regencial e romances modernos: num momento você está nos anos 60 interpretando Razão e Sensibilidade a luz dos Beatles; em outro você acompanha Austen contando as sobrinhas sobre os gatos de Mansfield Park; Capitão Wentworth explica como serviu, sem perceber, de cupido entre sua irmã e o então capitão Croft e Darcy vai ao tribunal reclamar de uma camisa molhada. Há recriações históricas de batalhas navais envolvendo irmãos da escritora, cartas e pequenos empurrões na direção certa; encontros e desencontros. Dois contos, pelo menos, se tornaram favoritos: o de um adolescente encontrando seu espaço na ‘cadeia alimentar’ da sociedade graças a uma ligação com os livros da Austen (e por causa deles, enfrentando o ‘status quo’) e o de um jovem residente que após receber pelo correio uma página solta de um romance, repensa seu ressentimento em relação a uma antiga namorada. O primeiro, eu torço para que se torne um livro próprio conforme prometido pelas autoras, porque a história tinha um belo potencial e podia muito bem ser expandida. A maior parte dos contos é excelente e trata de muitos aspectos do que ‘ser fã’ de Austen representa. Mesmo as histórias mais fracas são satisfatórias em seu objetivo de entreter o leitor austeniano. Altamente recomendado.

Resenha – Conversas Sobre Jane Austen em Bagdá

A Gazeta de Longbourn apresenta: mais uma resenha fresquinha da Luciana Darce (representante da JASBRA-PE): Conversas Sobre Jane Austen em Bagdá 

“Fiquei chocada em saber que você e o Ali cresceram sendo acordados com o canto dos pássaros e agora estão cercados por carros bomba e sirenes. As lembranças são tão delicadas que deveriam ser trazidas à tona sempre, especialmente quando elas têm significados para vocês.”

O título do livro é talvez algo enganoso, uma vez que não há assim tantas referências a Austen, mas não se preocupe: se você teve sensibilidade para a ficção de Austen, essa obra – bastante real – certamente te conquistará. Conversas sobre Jane Austen em Bagdá reúne a correspondência por email de uma jornalista britânica, Bee Rowlatt e uma professora iraquiana, May Witwit ao longo de três anos logo após as primeiras eleições no Iraque pós-invasão. Bee primeiro conhece May quando a entrevista para um programa sobre as expectativas em torno da eleição. Logo eles começam a trocar mensagens outras, sobre suas vidas, família, problemas pessoais e, no caso de May, o cotidiano em uma zona de conflito. A amizade que termina por uni-las me faz pensar na proximidade das irmãs Dashwood ou das irmãs Bennet mais velhas. May é uma professora universitária que ensina literatura inglesa (e é aqui que entra Austen, mas apenas de relance) e direitos humanos (o que ela mesma considera uma ironia) numa faculdade para mulheres. De família xiita, casou-se com um sunita e por conta disso acaba sofrendo o preconceito de todos os lados possíveis – não bastasse ser mulher numa sociedade extremamente machista e professora, numa época e lugar em que informação e cultura estão sendo perseguidos, ela ainda recebe o desprezo da própria família e da família do marido, passando a conviver particularmente com o pesadelo das perseguições das milícias aos sunitas. Isso para não falar que ela já foi casada anteriormente, o primeiro marido era um alcoólatra, ela se separou, casou com ele de novo, sofreu o pão que o diabo amassou e terminou viúva. Considerando tudo, é quase surpreendente que May tenha não apenas sobrevivido, mas também tido coragem para contar sua história. Quando seu nome aparece numa lista de morte condenando professores, é a gota d’água para May, que com a ajuda de Bee, tenta enfrentar a burocracia e a corrupção absurdas para conseguir um visto e sair do Iraque. Li esse livro de uma sentada só – e quase teria virado a noite para conseguir terminá-lo. A história de May e Bee é inspiradora, por vezes cheias de um humor, em outras verdadeiramente angustiante: enquanto mais e mais obstáculos surgem no caminho de May, é impossível não partilhar do sentimento de impotência de Bee diante dos fatos. Perseguição, ameaças de morte, erros na embaixada e travessias perigosas contrastam com o prosaico de se preocupar com a falta de energia para secar os cabelos ou problemas mecânicos com o carro. Conversas sobre Jane Austen em Bagdá é um livro emocionante, que fala muito ao nosso senso de solidariedade e humanidade – ele é um livro, sobretudo, humano. E é também um livro sobre uma amizade como poucas – na ficção ou fora dela.

Gazeta de Longbourn: Celebrating Pride and Prejudice

Mais uma vez, a Luciana Darce nos traz uma resenha de livro. 
Com vocês: Celebrating Pride and Prejudice! Publicado pela Lansdown Media de Bath, Editor chefe: Tim Bullamore. O livro foi escrito por Hazel Jones e Maggie Lane.

2013 marks the 200th anniversary of the first publication of Pride and Prejudice, Jane Austen’s best-loved novel. To mark this special occasion Hazel Jones and Maggie Lane have written this beautifully illustrated 64-page book looking at the history of the work that Jane Austen called her “darling child”. To celebrate the bicentenary of the book’s first publication in 1813, Hazel and Maggie investigate the reasons for its popularity and describe the extraordinary history, reception and afterlife of the phenomenon that is Pride and Prejudice.

Todo mundo por aqui já deve saber a essas alturas que 2013 marca o bicentenário de publicação do clássico Orgulho e Preconceito de Jane Austen. Celebrating Pride and Prejudice é uma das inúmeras iniciativas de fãs por todo o mundo para marcar a data. É um belo guia de referência, ricamente ilustrado, com referências históricas, literárias e cinematográficas: textos claros e bem humorados, e uma autêntica apreciação por tudo aquilo que leva o “selo de qualidade” Jane Austen. O único defeito, para mim, foi que o achei demasiadamente curto. Considerando a qualidade do projeto – das informações apresentadas ao projeto gráfico – eu não faria questão de pagar mais por um livro com ainda mais artigos e análises. Adoro ler tudo (ou quase tudo) que escrevem sobre Austen (não à toa estou todo mês batendo ponto aqui) e considerando o claro apuro e carinho com que Celebrating Pride and Prejudice foi feito, só consigo pensar ‘quero mais, mais, mais…’. Eu queria muito que alguma editora brasileira se interessasse por trás esse trabalho na nossa língua, especialmente a se considerar a data histórica que acabamos de passar. Não apenas essa pequena pérola, mas também os diários da Amanda Grange e a fantástica série de Pamela Aidan, Fitzwilliam Darcy, Gentleman (na minha opinião, o livro que melhor encarnou a voz do personagem) – acho que teria sido muito mais digno lançarem esses títulos em vez de 50 Tons do Sr. Darcy (não pretendo ler este, antes que perguntem por uma resenha). Enfim, saí completamente do assunto… O que vocês precisam saber sobre Celebrating Pride and Prejudice é que ele agrada tanto iniciados quanto recém-chegados à obra de Austen, um delicioso aperitivo antes do prato principal: didático sem ser chato, e um verdadeiro colírio para os olhos em termos de edição. Uma boa obra para se ter na coleção.

Gazeta de Longbourn Apresenta: All Roads Lead to Austen

With a suitcase full of Jane Austen novels en espanol, Amy Elizabeth Smith set off on a yearlong Latin American adventure: a traveling book club with Jane. In six unique, unforgettable countries, she gathered book-loving new friends– taxi drivers and teachers, poets and politicians– to read Emma, Sense and Sensibility, and Pride and Prejudice.

Whether sharing rooster beer with Guatemalans, joining the crowd at a Mexican boxing match, feeding a horde of tame iguanas with Ecuadorean children, or tangling with argumentative booksellers in Argentina, Amy came to learn what Austen knew all along: that we’re not always speaking the same language– even when we’re speaking the same language.

But with true Austen instinct, she could recognize when, unexpectedly, she’d found her own Senor Darcy.

All Roads Lead to Austen celebrates the best of what we love about books and revels in the pleasure of sharing a good book– with good friends.

Gostaria de ter descoberto esse livro antes de ter viajado – provavelmente teria tentado fazer algo parecido com a experiência da autora em minhas próprias jornadas (se bem que nada tenho a reclamar da minha experiência, que foi absolutamente fantástica…). O tempo todo que eu estava lendo, imaginava como seria participar de um projeto tão bacana sobre Austen.

Bem que a Amy podia vir ao Brasil num volume dois, não? Considerando nossa dimensão quase continental, experimentar um Clube do Livro em cada região do nosso país seria um bom equivalente ao roteiro que ela fez ao longo da América Latina.

Ok, estou me adiantando de novo. Vamos à história.

All Roads Lead to Austen é o relato da autora ao longo de um ano de Estrada pela América Latina – Guatemala, México, Equador, Chile, Paraguai e Argentina – aprendendo espanhol, conhecendo novas culturas e lendo Austen. Lendo Austen em espanhol e, mais importantes, na companhia de pessoas de cada um desses países, formando clubes de leitura a cada parada.

A idéia era ver como cada uma dessas regiões “traduzia” Austen – se eles eram capazes de se identificar com os personagens, de reconhecer temas e situações que se aplicassem ao seu cotidiano.

Não é surpresa que a maior parte dos participantes dos encontros que Amy promoveu tenham sido capazes de se identificar com as histórias que leram – nessa viagem, Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade e Emma. Se seus enredos se passam em um espaço físico e temporal bem delimitado e particular – o interior da Inglaterra no período da Regência – os temas continuam atuais: família, casamento, amor, dinheiro, preconceito, fofoca de cidade pequena…

A surpresa fica pelas experiências de Amy, por aquilo que ela aprende no caminho e o que ela encontra ao final de sua jornada – e posso garantir que ela encontra muito mais do que barganhou.

Um dos melhores livros que tive o prazer de ler esse ano. Para ter na estante, ler, reler e voltar a visitar junto com todas as obras da tia Austen.

Gazeta de Longbourn: Compulsively Mr. Darcy

For anyone obsessed with Pride & Prejudice, it’s Darcy and Elizabeth like you’ve never see them before! This modern take introduces us to the wealthy philanthropist Fitzwilliam Darcy, a handsome and brooding bachelor who yearns for love but doubts any woman could handle his obsessive tendencies. Meanwhile, Dr. Elizabeth Bennet has her own intimacy issues that ensure her terrible luck with men. When the two meet up in the emergency room after Darcy’s best friend, Charles Bingley, gets into an accident, Elizabeth thinks the two men are a couple. As Darcy and Elizabeth unravel their misconceptions about each other, they have to decide just how far they’re willing to go to accept each other’s quirky ways…

Li esse livro assim que ele chegou aqui em casa. Passei um mês esperando ansiosamente por ele – um mês é o tempo médio que normalmente leva para chegarem minhas encomendas internacionais – e coloquei-o na frente de tudo que tinha por ler na ocasião.

Diverti-me imensamente com a primeira parte da história. As descrições do Vietnã – onde Lizzie e Darcy primeiro se encontram – são fascinantes. Benneton pinta sua exótica locação com cores e perfumes fortes. Lizzie, como uma médica voluntária (e voluntariosa), ao lado da irmã Jane, que dirige um orfanato na região, está perfeitamente à vontade. Em casa. Ela se adapta tão bem ao ambiente que você não tem dificuldades em aceitar que seja absolutamente natural para as duas Bennet mais velhas estarem ali.

Entra Darcy, presidente de uma poderosa companhia, viajando com os Bingley e os Hurst para auxiliar esses últimos a adotarem uma criança vietnamita (oi?). Aí você tem um Darcy com TOC que desmaia ao sinal de sangue; Bingley tendo de tomar remédios para sua hiperatividade, acidentes com bicicletas, hospitais e emergências lotadas e Darcy e Lizzie se batem… e ela pensa que ele é pobre, gay e que Bingley é o parceiro dele.

Pausa para Lulu cair da cama rindo.

São tantos os desentendimentos para te deixar tonto tentando descobrir para onde está indo a história – e o efeito cômico geral é muito bom – que você nem se dá conta dos furos do roteiro.

É lá pela segunda parte do livro que as coisas desandam – ao menos se seu interesse no livro era ver uma versão moderna de Orgulho e Preconceito. É um pouco estranho ver Lizzie se sentindo tão confortável com Darcy (por causa de suas confusões iniciais), a ponto de tratá-lo como ‘melhor amigo’… E não são apenas os personagens que saem do que esperamos fosse sua personalidade de acordo com a obra original.

Algumas das situações-chave da obra de Austen são alterados para evitar grandes conflitos no romance entre Lizzie e Darcy. Wickham aparece por talvez uns cinco minutos, não convence ninguém, e podia ser completamente dispensado. Anne de Bourgh é aparentemente uma psicopata. Lydia se torna uma heroína. Darcy tem uma cobertura com espelhos no teto do quarto. E Lizzie em algum momento torna-se a princesa inerte à espera de seu cavaleiro de armadura brilhante, presa numa torre de marfim.

Acredito que Compulsively Mr. Darcy funcionaria melhor desvinculado de Orgulho e Preconceito. A história é divertida, tem algumas excelentes tiradas, mas esvazia completamente algumas importantes questões que são discutidas em Austen.

Mas, bem, não se pode ter tudo… e, ao menos, os Hurst não (traumatizam) adotam nenhuma criança. Amém por pequenas graças…

Gazeta de Longbourn Apresenta: Emma and the Vampires

What better place than pale England to hide a secret society of gentlemen vampires?

Blithely unaware of their presence, Emma, who imagines she has a special gift for matchmaking, attempts to arrange the affairs of her social circle with delightfully disastrous results. But when her dear friend Harriet Smith declares her love for Mr. Knightley, Emma realizes she’s the one who wants to stay up all night with him. Fortunately, Mr. Knightley has been hiding a secret deep within his unbeating heart-his (literal) undying love for her…

Uma vez que estamos em outubro, mês do Halloween, decidi dar uma chance a um desses mash-ups tão em moda ultimamente entre clássicos e criaturas sobrenaturais. No caso, vampiros. E o escolhido foi esse título aqui.

É raro, muito raro, que ao terminar um primeiro capítulo eu já esteja querendo fechar o livro. Sempre tento dar segundas e terceiras chances a uma história que não me prende desde a primeira linha. Dei todas as chances possíveis para Emma and the Vampires, mas vou dizer que passei a leitura inteira revirando os olhos e enfiando a cara nas mãos por conta da minha vergonha alheia. O que é uma pena, porque eu estava antecipando dar pelo menos umas boas gargalhadas com ele.

Emma aqui continua sendo a mesma, petulante, mimada e imperiosa, com o bônus de andar com uma estaca de madeira presa sob o vestido com fitas sempre na última moda. Eu estava esperando algo no estilo Buffy, mas não a ponto de ter Mr. Knightley como um vampiro.

E tudo bem, a idéia de Knightley como um vampiro era interessante… mas aí o autor insulta a inteligência da Emma (e nossa por tabela) ao fazê-la aprender a lutar vampiros – e capaz de decapitá-los com um sabre – mas não de reconhecer que a quase inteireza da população masculina de Highbury comuna de mais que o gosto pela vida no campo.

Pelo que entendi da coisa toda, o único homem que não é vampiro em toda a vizinhança é o coitado do Mr. Woodehouse, que morre de medo dos sangue-sugas e não faz a menor idéia de que recebe pelo menos um deles para jantar todos os dias; para não contar que casou a filha mais velha com um deles também.

É óbvio para qualquer um com dois olhos e um mínimo de conhecimento da mitologia vampírica quem é vampiro e quem não é, mas de novo, a Emma e vários outros personagens que necessariamente deveriam saber diferenciar humanos de vampiros parecem não fazer idéia de coisa alguma e os vampiros se dividem entre os bonzinhos, que se restringem a beber dos pescoços de suas esposas (ou Knightley, que diz que só vai beber de sangue aristocrático…) e os selvagens, que atacam virgenzinhas e aparentemente têm uma especial fixação com a coitada da Harriet.

Aliás, gostaria de observar que Knightley parece ter sofrido algum tipo de lavagem cerebral. Deve ser a sede muito provavelmente…

As ações se sucedem de forma abrupta, não existe muita explicação para nada – ou elas são insuficientes ou tão ridículas e frágeis que suscitaram aqueles meus momentos de vergonha alheia.

É uma pena, porque, como já disse, eu antecipava para esse livro um razoável potencial cômico… mas ele termina por não dizer a que veio, te deixando com a sensação incômoda de inconclusão.

Gazeta de Longbourn Apresenta: Edmund Bertram’s Diary

At last it was time for me to claim Fanny, and I found her with relief.

‘I am worn out with civility,’ I confessed, as I led her on to the floor. ‘I have been talking incessantly all night, and with nothing to say. But with you, Fanny, there may be peace. You will not want to be talked to. Let us have the luxury of silence.’

She smiled in silent sympathy, and I found it a great solace to be able to dance with her.

How different was our silence to the one that had fallen between Miss Crawford and myself, for that had been angry and not at all comfortable. But then, Fanny is one of my oldest friends, and it would be a strange day, indeed, if I should ever find myself at outs with her.

Bem… isso foi curioso… Dos romances da Austen, Mansfield Park é o que menos gosto (gosto de todos, mas todo mundo tem suas preferências…), e no entanto… no entanto, Edmund Bertram’s Diary foi meu diário favorito da série da Amanda Grange até agora (isso porque ainda falta ler o do Mr. Tilney e sempre gostei muito do Tilney…).

Irritava-me profundamente a forma como Bertram ficava totalmente cego por Mary e machucava Fanny e como ela se calava e deixava que ele – que tecnicamente era o moço bom, puro e generoso, avesso da turminha muitas vezes indigesta da família – pusesse sal nas feridas já abertas.

Ler agora o ponto de vista do Edmund fez-me sentir mais caridosa e benevolente em relação ao moço. A despeito de sua fascinação com Mary, ele nunca esquece a amizade e afeto por Fanny. O tempo todo em que lia, eu torcia por Edmund, para que ele pudesse abrir logo os olhos e enxergar o que estava bem diante de seu nariz, para que ele não sofresse tanto.

Comparativamente aos outros mocinhos da Austen, Edmund parece bastante sem sal. Ele não é um herói galante que arranca suspiros, que nos fascina com seu mistério, ou seu porte, ou sua sagacidade.

A verdade, contudo, é que ele é… companheiro. Acho que essa é a palavra e esse é o encanto dele. Ele é companheiro, fiel aos seus princípios, gentil e afetuoso. E a Grange transporta essas qualidades para todas as relações de Edmund – com os irmãos, com os amigos, com os pais. A forma como ela escreveu ele com Tom, o carinho e a lealdade que Edmund tem para com o irmão mais velho é para te deixar sorrindo feito bobo.

Edmund Bertram’s Diary é um retrato simpático e terno de um personagem que, muitas vezes, deixamos de lado por não corresponder às nossas noções de handsome, dashing gentleman. Ele não nos oferece paixões violentas, mas antes a certeza de um amor tranqüilo e constante. Sereno, mas nem por isso menos intenso.

* Lu Darce (JASBRA-PE) quase esqueceu de postar isso aqui hoje, mas deve ser desculpada porque ainda está meio fora do tempo. Esse e outros esquecimentos, você pode encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Gazeta de Longbourn Apresenta: Captain Wentworth’s Diary

“Você não deveria ter me pedido para dançar,” ela disse suavemente, quando nós tomamos nossos lugares. “Nós não fomos apresentados ainda.”

“Então porque você aceitou?” eu perguntei.

Ela corou, e eu pensei que, apesar de ela não ter a beleza marcante de Miss Elliot, ela era extremamente bonita, com seus traços delicados e olhos escuros.

“Eu mal sei, a não ser que seja porque eu tenho tão poucas oportunidades de dançar que não posso ignorar uma,” ela disse.

Todo mundo já deve saber a essas alturas que Persuasão é meu romance favorito dos escritos por Jane Austen – se é para suspirar por algum mocinho, que ele use dragonas e tenha ar de pirata. Wentworth é meu herói favorito e é claro que eu estava ansiosa por chegar nesse volume.

A história começa bem antes da narrativa oficial de Persuasão, com aqueles famosos (e dolorosos) eventos de ‘oito anos atrás’, quando tudo começou entre a jovem Anne e o recém nomeado capitão Frederick.

Sempre admirei Wentworth porque ele é um homem que veio do nada, sem qualquer fortuna ou ligações, e que cresceu por seu próprio esforço e mérito – sem, contudo, perder de vista o que era realmente importante. Se por vezes ele pode parecer um pouco arrogante e até cruel, devemos levar em consideração o desapontamento que ele sofreu quando Anne terminou o noivado entre eles – uma ferida que nunca cicatrizou, a despeito da distância e do tempo, que só pode ser esquecida de verdade diante da renovada admiração e reabertura das possibilidades entre os dois.

Já expus extensamente sobre o assunto do Capitão quando fiz a análise do livro de Austen. Sendo assim, vamos logo ao que interessa hoje.

Embora eu não diga que Captain Wentworth’s Diary seja ruim, sinto que falta a ele alguma coisa para que você acredite estar diante do verdadeiro capitão. Gosto da forma como a Grange escreve e o livro teve seus bons momentos, mas volta e meia eu me pegava surpresa com a imaturidade do Wentworth que ela escreve.

Frederick é um homem ferido, sim, mas nunca um moleque mimado e imaturo – e é dessa forma que ele soa em alguns momentos, especialmente no começo.

Sempre acreditei que Frederick e Anne eram dos casais mais passionais da tia Jane, mas que o amor deles começara de forma quase… espiritual, um verdadeiro encontro de mentes e almas. E não é isso que acontece aqui, a ligação inicial entre os dois não me convenceu de todo e Wentworth parece deixar Anne mais com o ego que o coração partido.

A narrativa melhora uma vez que chegamos ao reencontro ‘oito anos depois’. Temos então o capitão mais maduro, mais crível, mais próximo da voz com que Austen originalmente o dotou. E é claro que não há como não se derreter a partir do momento em que ele decide que seu objetivo deve ser reconquistar Anne (para então descobrir que, de fato, nunca a perdeu).

Eu me diverti mais lendo Mr. Knightley’s Diary, não vou negar. Mas ainda assim, este volume da série que a Grange escreve com os diários dos heróis austenianos é uma leitura agradável para uma sessão da tarde.

* Lu Darce (JASBRA-PE) gosta tanto de uniformes quando Lydia Bennet, embora prefira a marinha à milícia. Ela provavelmente se comportaria de forma tão vergonhosa quanto Lydia se o grupo de capitães de Persuasão aparecesse em sua cidade. Esse e outros segredos não tão secretos, vocês podem encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Gazeta de Longbourn Apresenta: Confessions of a Jane Austen Addict/Rude Awakenings of a Jane Austen Addict

“I do not know how I have come to be in this time, in this place, in this body. But I do know that any place where there are six novels by the author of Pride and Prejudice must be a very special sort of heaven.”

Ao início de Confessions of a Jane Austen Addict, após terminar o compromisso com o noivo que a traía, seguida de uma concussão e um porre de vodca, Courtney Stone acorda num quarto que não lhe pertence. Pior: ela também está num corpo que não lhe pertence. Aparentemente, o álcool estava vencido ou talvez a batida na cabeça tenha sido mais forte do que ela imaginara, porque repentinamente Courtney era Jane Mansfield, vivendo numa mansão no interior da Inglaterra à época da publicação de Orgulho e Preconceito.

A princípio, Courtney acredita que está vivendo algum sonho – ou pesadelo, a depender do ponto de vista. Pouco a pouco, contudo, ela percebe que não, ela não está dormindo e sim, ela viajou no tempo, trocou de corpo e está vivendo a vida de outra pessoa, num cenário que em tudo lembra seus romances favoritos – com direito inclusive a mães manipuladoras, cavalheiros misteriosos de casaca e estadias em Bath.

Só que o passado não é apenas flores. Acostumada às facilidades da vida moderna, Courtney se vê às voltas com costumes e situações impensáveis em sua Los Angeles original – a falta de água encanada, a mania dos médicos de sangrarem seus pacientes, a etiqueta sufocante.

Viver na Inglaterra dos romances de Austen não é nada fácil. Especialmente quando você tem um Mr. Edgeworth para confundi-la ainda mais e começa a ter memórias de uma vida que não é bem a sua.

Mas não basta ver como Courtney se vira para se adaptar à vida que teoricamente, era a de seus sonhos – especialmente depois de ter o coração partido pelo noivo mau-caráter. Afinal, o que aconteceu com a verdadeira Jane Mansfield?

A resposta vem em Rude Awakenings of a Jane Austen Addict.

Enquanto Courtney foi parar no período da Regência, Jane está em seu corpo, em sua vida e, a depender das amigas, prestes a ser forçada a entrar na terapia. A salvação de Jane é Wes, melhor amigo de Frank (o ex-noivo), que no final das contas se revela apaixonado pela mocinha.

Nessa confusão de identidades, memórias, passado e presente, o que mais me divertiu foi ver como Courtney e Jane iam se adaptando à realidade em que tinham caído, acostumando-se pouco a pouco com um ritmo de vida que era completamente diferente para cada uma delas.

As duas viviam profundamente insatisfeitas com suas vidas, com suas aspirações, consigo mesmas. Esse talvez tenha sido um dos poucos pontos que me irritou nas duas histórias – eu acho que após passarem pela troca, elas deveriam ter enfrentado cada uma seus próprios problemas e não simplesmente ‘deletarem’ uma vida passada e todas experiências que as moldaram ao longo da vida.

Mas se filosoficamente não concordo com a forma como elas terminam, isso não me tirou o prazer da leitura dos dois livros. Divertidos e inteiramente familiares para todos os fãs de Austen – vocês certamente serão capazes de encontrar muitas passagens que revisitam os temas habituais de nossa autora favorita – Confessions e Rude Awakenings são uma boa pedida se você está procurando algo mais leve para ler no fim de semana. Ou para levar nas férias, que já estão à vista…

* Lu Darce (JASBRA-PE) está à cata de uma máquina do tempo para organizar uma excursão à mansão dos Mansfield – mandei uma carta para Mr. Wells, mas ele ainda não me respondeu. Enquanto esperamos, essas e outras viagens, vocês podem encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.