Gazeta de Longbourn apresenta: Death Comes to Pemberley

“Neither man spoke of the past. Darcy could not rid himself of its power but Wickham lived for the moment, was sanguine about the future and reinvented the past to suit his audience, and Darcy could almost believe that, for the present, he had put the worst of it completely out of his mind.”

Este mês no Coruja (que está fazendo três anos de existência) vai ao ar um grande especial sobre o detetive mais famoso de todos os tempos, Mr. Sherlock Holmes. No espírito das comemorações, decidi ler para a coluna da Gazeta de Longbourn um romance policial – e não precisei esquentar muito a cabeça para me decidir em Death Comes to Pemberley, que chamou a atenção desde antes de ser lançado.

Ele também acabou entrando em minha cota de ‘livros a ler para o bicentenário de Orgulho e Preconceito’ e ‘audiobooks para ocupar o tempo no trânsito’. Três coelhos com uma só cajadada!

Antes de mais nada, vamos colocar as coisas nesses termos: se você está atrás de romance e ‘oh, Mr. Darcy’, Death Comes to Pemberley não é exatamente seu cupcake (hum… que fome…). Não há cenas de alcova, nem mesmo beijos apaixonados. Em compensação, há uma confortável familiaridade entre Lizzie e Darcy, tranqüila e rotineira. O final é um pouco mais doce e, pelo menos para mim, agradou bastante, bem no espírito da Austen.

Embora haja vários momentos em que acompanhamos Lizzie em seus esforços para trazer um pouco da paz roubada de Pemberley com a chegada de Lydia, é Darcy a voz dominante da história. A verdade, contudo, é que o livro não se concentra no casamento dos Darcy. O interesse aqui é entender o que aconteceu no bosque que cerca a propriedade e que culminou no assassinato de Mr. Denny, possivelmente pelas mãos de seu amigo, Mr. Wickham.

A narrativa abre às vésperas de um grande baile em Pemberley, em memória de Lady Anne, a mãe de Darcy. No meio da noite, uma carruagem quase desgovernada chega contendo uma Lydia histérica.

Wickham e Lydia tinham planejado para que ela pudesse comparecer ao baile dos Darcy a despeito do fato de que nenhum dos dois é particularmente bem-vindo. O cavalheiro em questão largaria a esposa na mansão no meio da noite – de forma que não houvesse outra alternativa para Lizzie além de receber a irmã – e depois seguiria com Denny para Londres, a fim de procurar sua própria diversão. No meio do caminho, contudo, Denny e Wickham discutem, deixam a carruagem para terminar a conversa, se escuta um tiro no meio da noite… e quando são encontrados de novo, Denny está morto e Wickham está aos prantos, completamente bêbado, dizendo que matou ‘seu único amigo’.

A cena é surreal para Darcy, que não apenas tem de lidar com o escândalo às portas de Pemberley, como participar da investigação – uma vez que é um dos magistrados locais. Contudo, a despeito de suas reservas para com Wickham, ele não acredita realmente que esse fosse capaz de assassinato – especialmente de um amigo tão próximo quanto Denny.

Wickham é preso – suas palavras à cena do crime servindo praticamente como uma confissão – e até seu julgamento final haverá outras desconfianças e segredos para desenterrar.

Death Comes to Pemberley foi particularmente fascinante para mim em seus debates sobre a questão da justiça. Descobri pela história que, à época, não existia corte de apelação e se ocorresse um erro judiciário, não haveria como entrar com um recurso. Tudo o que você podia fazer era esperar por um perdão real – e nada garante que este viria ou mesmo que chegaria a tempo de salvar um homem inocente.

Confesso, contudo, que esperava um pouco mais do mistério. Passei metade do livro torcendo o nariz e querendo dar um chute no Coronel Fitzwilliam, ao mesmo tempo em que torcia pela Georgiana e tentava entender o que tinha acontecido. Eu estava absolutamente inclinada a me surpreender com a revelação do final, uma vez que meus próprios talentos de detetive nem de longe tinham me levado a alguma conclusão, mas quando afinal disseram quem tinha sido o assassino, fiquei… não sei dizer exatamente. Desapontada? Descontente? Ligeiramente desconfiada?

Talvez o problema tenha sido exatamente esse: eu estava esperando demais desse livro, alguma reviravolta emocionante, totalmente extraordinária e quando ela aconteceu, veio temperada de enganos inocentes e soluções quase ingênuas.

Gostei do livro pelas cenas familiares, pela forma como é mostrada a intimidade dos Darcy e dos Bingley (porque Bingley me dá vontade de agir como a tia que aperta as bochechas?), como a Georgiana se reafirma em muitos momentos, superando aquela timidez quase doentia de seus tempos de adolescente e especialmente pela aparição de Mr. Bennet. Adorei que o Darcy demonstre confiança e até alívio com a presença do sogro no meio daquele pesadelo.

Não vai virar um favorito, mas é uma boa pedida.

* Lu Darce (JASBRA-PE) presentemente está fazendo bolhas com seu cachimbo e pensando nos misteriosos caminhos que o crime nos pode levar. Essas e outras divagações, vocês podem encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Gazeta de Longbourn apresenta: Mr. Knightley"s Diary

I had lunch at my club, with Routledge. As we finished our meal, I found him watching me curiously.

‘Well?’ he said.

‘Well?’ I asked.

‘Out with it.’

‘Out with what?’

‘Whatever it is that is bothering you,’ he said. ‘It must be something important, for you have not listened to a word I have said. You have answered me in an abstracted manner, and nothing you have said has made sense.’

‘Nothing is bothering me,’ I answered testily.

‘You might as well make up your mind to tell me, because I will hound you until you do. I am tired of looking at your long face and hearing your sighs! It is not like you.’

‘I do not sigh!’ I protested.

‘I distinctly heard you as you ate your beef. You sighed.’

I gave a deep sigh – then was angry with myself.

‘Hah!’ said Routledge. ‘There you are! It is as I said! You sighed. Well?’

I could not hide it from him any longer, nor did I wish to, for I needed to unburden myself.

‘You were right.’ I said.

‘About?’

‘About Emma. Everything you said was true. I am in love with her. I cannot think why I did not see it sooner. I have been blind. She is the very woman for me.’

‘At last! I have been waiting for you to see it for months. Well, when are you going to marry her?’

‘Never. I have missed my chance. She is going to marry Frank Churchill.’

‘Is she indeed?’ he asked in surprise. ‘What makes you think so?’

‘There is an understanding between them. From things she has said – things she has done – I asked her if she knew his mind on a certain subject, and she said she was convinced of it. In short, I thought he seemed to be casting glances at Jane Fairfax, some time ago, but Emma said she was sure of him. It was an intimate matter, one that would not have been spoken of if there had not been an engagement.’

‘And so they have announced their betrothal.’

‘I am expecting it any day, although it may be delayed as Mrs Churchill has just died.’

‘Then, if it is as certain as you say, you had better marry Jane Fairfax instead.’

‘I have already thought about it, but I cannot do it.’

‘Why not? She is an attractive young woman, well bred, agreeable and in need of a home.’

‘I cannot marry her for those reasons. Befriend her, help her – yes, But marry her? No.’

‘Then you had best see to your repairs at the Abbey, for it seems your nephew will inherit it, after all.’

Todas as regionais da JASBRA fizeram ou vão fazer encontros do Clube do Livro esse mês para discutir Emma. Assim, nada melhor que aproveitar a ocasião e os empréstimos da Adriana para resenhar este mês o diário do excelentíssimo Mr. Knightley, o cavaleiro em armadura brilhante de Emma.

Aposto que muitos fãs de Austen por aqui já conhecem o trabalho da Amanda Grange. Já li muitos elogios ao seu Mr. Darcy’s Diary e comentários menos empolgados para sua continuação vampírica de Orgulho e Preconceito. – já li os dois e concordo com ambas as opiniões: no primeiro, ela foi bastante fiel e gostosa de ler, no segundo, é meio óbvio que ela não tem muita prática com o mundo do sobrenatural e a forma como ela trabalha o mito do vampiro é meio que bastante bizarra.

O caso é que, curiosamente, meio mundo conhece da versão de Grange para Orgulho e Preconceito, mas nem todo mundo sabe que ela escreveu diários para quase todos os heróis de Austen (e um para o Wickham) – Mr. Knightley sendo um deles, claro.

Não há muito o que falar sobre o plot, porque é bastante óbvio do título – trata-se do diário mantido por Mr. Knightley durante os eventos de Emma. Dito isso, devo observar que um dos motivos do personagem estar no meu top 3 heróis austenianos decorre da leitura desse livro (eu já o tinha visto antes da Dri emprestar).

Grange não sai do tom ditado por Austen em nenhum momento, mas ao revelar os pensamentos de Knightley para nós, ela o faz de maneira apaixonantemente honesta. E essa é uma característica marcante do senhor de Donwell Abbey – ele é honesto, sincero em tudo aquilo que faz e isso se reflete mesmo em sua realização do que sente por Emma e sua posterior declaração (confesso que fico sempre me segurando na cadeira nesse momento e quase saio pulando de emoção quando ele solta aquele “se te amasse menos, talvez fosse capaz de falar mais sobre o assunto”).

Sério, Austen escreve as melhores cenas de declaração, não? Incrível como depois de ler e reler inúmeras vezes esses livros, continuo sempre na ansiosa expectativa delas…

Seja como for, Grange retrata nesse livro aquilo que há de melhor no cavalheiro em questão – e se vocês ainda têm alguma dúvida sobre o porquê de Emma ter se apaixonado por ele, recomendo fortemente dar uma lida neste livro e veremos se vocês serão capazes de resistir ao charme de Mr. Knightley.

* Lu Darce (JASBRA-PE) está presentemente encantada com Mr. Knightley “se eu te amasse menos seria capaz de falar mais sobre isso”. Tanto que está até sem palavras. Mais silêncios como esse, vocês podem encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Gazeta de Longbourn apresenta: Me and Mr. Darcy

“Sounds incredible? Hell, it does. But perhaps we all need to believe something incredible once in a while.”

A Adriana me emprestou uma série de livros para resenhar para o Gazeta de Longbourn – o suficiente para durar o ano inteiro. Alguns já devolvi, outros tantos ainda falta ler e aos poucos vou riscando-os da minha sempre crescente lista de tarefas a fazer…

Me and Mr. Darcy foi um dos primeiros que ela me emprestou, junto com The Man Who Loved Me. Aviso logo que este segundo não será resenhado porque não gostei da história e não vou resenhar um livro apenas para descer a lenha nele.

Deixando esse detalhe de lado, vamos ao que interessa. Me and Mr. Darcy é um livro bem divertido – aquele tipo Sessão da Tarde, que você lê de uma sentada e não pede demais da sua inteligência. A princípio, ele me lembrou muito Austenland – em essência, a idéia é a mesma: mulher apaixonada por Mr. Darcy tem vida amorosa fracassada por comprara todos os homens reais que surgem em seu caminho ao herói literário; percebendo que sua obsessão não a levará a lugar algum, decide seguir numa jornada para se despedir de seus sonhos antes de dscer das nuvens e colocar os pés no mundo real e aí encontra um Darcy de verdade com quem juntar os trapinhos.

Tenho a impressão de que existe todo um nicho literário desenvolvendo esse mesmo tema…

Sendo bastante sincera, entre os dois, prefiro a forma como a Shannon Hale trabalhou em Austenland – há algumas questões que ela aborda ali que são bastante pertinentes e a história em si é mais consistente. Me and Mr. Darcy é divertido, rende boas risadas… e só.

Afinal de contas, ter alucinações de tempos em tempos com Mr. Darcy, ao mesmo tempo em que arranja escaramuças com o jornalista mau-humorado e defende o motorista simpático, tudo isso emulando diretamente diálogos de Orgulho e Preconceito, é um pouquinho forçado.

Mas, se nada mais fica, o epílogo funciona muito bem. Rolei de rir com as tiradas que saem na reportagem resultado das investigações do Spike (sério, isso é alguma referência a Buff?). Eu daria uma nota cinco de dez.

* Lu Darce (JASBRA-PE) também sofre de alucinações com personagens austenianos e jura de pés juntos que cruzou com Mr. Tilney hoje de manhã ao sair para caminhar. Essas e outras alucinações você encontra em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Gazeta de Longbourn apresenta: Two Histories of England

Henry the 6th
I cannot say much for this Monarch’s sense. Nor would I if I could, for he was a Lancastrian. I suppose you know all about the Wars between him and the Duke of York who was of the right side; if you do not, you had better read some other History, for I shall not be very diffuse in this, meaning by it only to vent my spleen AGAINST, and shew my Hatred TO all those people whose parties or principles do not suit with mine, and not to give information.

Eu já estava com a resenha desse mês pronta quando Two Histories of England chegou pelo correio e me toquei que era melhor passá-lo à frente para fevereiro a fim de lembrar o bicentenário de nascimento do Charles Dickens.

Sorte minha que o livro é curtinho e consegui terminá-lo de uma única sentada. Ainda assim, quase que essa resenha não sai, uma vez que tive de viajar, tô enrolada com mais um milhão de projetos e toda vez que sentava no computador eu arranjava alguma outra coisa para fazer…

Mas, enfim, estamos aqui. Então, vamos ao que interessa…

Para começo de conversa, não se deixem enganar pela capa. Postei uma foto da capa e contracapa do livro no grupo da JASBRA no Facebook e todo mundo acho lindo e muito fofinho – rosa e azul bebê, com as silhuetas dos dois autores, parece um livrinho para crianças.

E, a bem da verdade, a parte que o Dickens escreveu é, realmente, para crianças – não à toa o título é A Child’s History of England. Mas isso não significa que seja um livro ingênuo, fofinho ou meigo. A capa é pura propaganda enganosa.

A primeira parte do livro cuida de uma das peças da Juvenilia de Jane Austen. The History of England from the reign of Henry the 4th to the death of Charles the 1st by a partial, prejudiced & ignorant Historian já revela do título os verdadeiros propósitos de Austen. Ela começa pegando um dos períodos históricos mais conturbados da história inglesa e revirando tudo de pernas para o ar, numa paródia que critica a ingenuidade de certos argumentos históricos. É uma peça curta – no original, de 1791, são 34 páginas manuscritas – mas deliciosa.

Bem valeria à pena alguma editora trazer para o Brasil um volume com a Juvenilia, não? Esses trabalhos da Austen mais nova servem como um verdadeiro estudo do desenvolvimento dela como autora – a ironia e a inteligência que são suas características já estão ali, apenas um pouco menos sutis que em seus romances maduros.

A segunda parte do livro traz apenas alguns capítulos do A Child’s History of England, de Dickens – indo do governo de Elizabeth até a morte de Charles I quando da Guerra Civil. É mais ou menos o mesmo período histórico que Austen retratou em sua própria História.

Dickens não deixa de julgar os atos de todos os reis, rainhas e políticos que perpassam por suas páginas, sem levar em consideração atenuantes de contexto histórico – motivo pelo qual historiadores não gostam muito de seu livro. Ele os pesa dentro de seus próprios princípios e sensibilidades morais e não hesita em chamar a atenção para aquilo que ele acha errado.

O que mais achei curioso enquanto lia Two Histories of England é que os dois autores não iam muito com a cara da Rainha Elizabeth – Austen chega ao ponto de chamá-la de ‘peste’. Sempre tive a impressão de que Elizabeth era uma unanimidade, mas acho que me enganei…

* Lu Darce (JASBRA-PE) adora História e quase se engasgou de rir com a forma como ela é contada nesse livro. Sobre esse e outros livros engasgantes, você pode encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Gazeta de Longbourn: Aprendi com Jane Austen

William Deresiewicz tinha 26 anos quando conheceu a mulher que mudaria sua vida. E, para ele, pouco importava que ela tivesse morrido quase 200 anos atrás. A verdade é que até aquela época, o então estudante de pós-graduação, habituado à leitura de James Joyce e Joseph Conrad, nunca havia desejado ler Jane Austen, o que veio a acontecer meio por acaso e até contra sua vontade. O resultado, porém, não poderia ter sido mais revolucionário. Os romances da escritora inglesa que viveu entre 1775 e 1817, como pontua Deresiewicz, iriam ensinar-lhe tudo o que viria a saber a respeito do que realmente é importante na vida.

‘Gente, mas que livro maravilhoso!’ – foram estas minhas exatas palavras ao terminar Aprendi com Jane Austen, pouco antes de voltar ao começo para reler minhas partes favoritas (todo ele).

Há um milhão de motivos para devorar este volume. O primeiro é que se trata de uma história real, de uma série de experiências de vida intimamente ligadas aos livros de Austen – de uma resposta, enfim, à importância e impacto que esta genial romancista consegue produzir em seus leitores mesmo duzentos anos após o início de suas publicações.

Em segundo lugar, ele foi escrito por um homem.

Não é preciso ir muito longe para perceber o quanto isso é importante. Nos fóruns de discussão da própria JASBRA – no facebook, a lista de emails, o próprio fórum – eles são uma minoria. Eu tenho o enorme prazer de ter no Clube do Livro aqui do Recife um deles (oi, Michel!) e ao menos dois grandes amigos meus já foram influenciados e admiram a obra dela (um deles viciou-se no filme de Orgulho e Preconceito e está tendo de sair de casa para reassistir, porque ninguém lá agüenta mais uma repetição XD).

Seja como for, um livro escrito por um membro do sexo masculino assumindo a importância que as obras de uma autora supostamente de romances água-com-açúcar (idéia errônea que muita gente ainda tem) – e não apenas academicamente, mas em sua vida e crescimento pessoal – é algo para se aplaudir. É um livro, enfim, para romper preconceitos e abrir caminhos.

Além de tudo isso, é um livrinho delicioso, direto ao ponto, cheio de humor – humor cáustico, humor leve, humor bem-humorado. Deresiewicz não tem medo de admitir nada, nem mesmo aquilo que pode depor contra ele – ele revela seus piores e melhores momentos enquanto passeia pelas obras de Austen.

Ao terminar Aprendi com Jane Austen, além das análises que ganhamos de cada um dos títulos apaixonantes de nossa autora preferida, bem como do sentimento de familiaridade, praticamente amizade que o tom íntimo de Deresiewicz nos oferece, fica um gosto de quero mais, de ler e reler de novo e de – porque não – começar a nossa própria história do que aprendemos ao mergulhar no mundo maravilhoso de Jane Austen.

* Lu Darce (JASBRA-PE) está pensando em escrever seu próprio roteiro de coisas que aprendeu com Jane Austen, entre as quais “não há nada como um bom livro para unir pessoas numa bela amizade”. Essas e outras conclusões você encontra em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Gazeta de Longbourn Apresenta: Cranford

Em primeiro lugar, Cranford é possessão das Amazonas; todas os detentores de casas acima de um certo aluguel são mulheres. Se um casal vier a se instalar na cidade, de alguma forma o cavalheiro desaparece; ele é ou assustado até a morte por ser o único homem nos saraus de Cranford, ou ele é contado como estando em seu regimento, em seu navio, ou extremamente envolvido com negócios ao longo de toda a semana na grande cidade comercial vizinha de Drumble, distante apenas 20 milhas de trem.

Elizabeth Gaskell – Cranford

Peguei esse livro emprestado com a Lu Campelo (por sinal, obrigada, Lu!) com, sei lá porque cargas d’água, a firme convicção de que o leria em inglês. Já até tinha visto que a Raquel de Queiroz traduzira muitos anos atrás a Gaskell, mas essa lembrança não me veio à mente nem de longe a princípio. Foi assim que quase caí da cadeira ao abrir a capa e descobrir que estava em português. E um português delicioso, cheio de palavras de expressões de ‘antanho’, conferindo ao texto muita personalidade.

Claro que isso não adiantaria de nada se o texto da Gaskell, em si, não fosse também tão gostoso. E ele é, embora a princípio eu tenha estranhado um pouco…

Meu problema foi que meus primeiros contatos com a obra dessa autora se deram através das adaptações para a TV feitas pela BBC, séries essas que receberam um tratamento análogo às inspiradas em Austen, de tal forma que fiquei com a impressão de que Elizabeth Gaskell fazia o mesmo estilo que Jane Austen.

Eu estava, claro, completamente errada, e foi por isso que no início do livro fiquei sem saber se estava ou não gostando – tendo esperado o estilo mais seco, menos descritivo e bem mais sutil de Austen, a riqueza de detalhes e o tom por vezes terno por vezes rasgadamente cômico da Gaskell me confundiram. Aí respirei fundo, esvaziei a cabeça do que eu acreditara antes saber e recomecei a ler.

Não sei ainda se a autora mantém o mesmo estilo em todos os seus livros (Norte e Sul me olha ali da estante e ele será o próximo a ser devorado), mas ao menos em Cranford, fiquei perdidamente apaixonada pela rica tapeçaria de personagens que ela borda num romance quase que absolutamente sem nenhum romance.

Cranford é um pequeno vilarejo completamente dominado por mulheres – e são essas mulheres e suas vidas prosaicas e tranqüilas que são o centro da história. Não existem heróis nem mocinhas, mas senhoras simples, divertidas em suas visões por vezes ultrapassadas da sociedade e que nos cativam intensamente com seus pequenos problemas, suas pequenas manias, seus pequenos gestos de bondade.

É, enfim, um romance de miudezas, auto-centrado e auto-suficiente, quase anedótico em muitas partes – como o episódio da renda que o gato comeu ( e as peripécias para faze-lo ‘descomer’ de tal forma que a renda pudesse ser posteriormente usada e ‘você nem diz que ela já passou pelo estômago de um gato!’) ou da vaca usando pijamas – e em outras melancolicamente delicado – como o triste caso de amor do Mr. Holbrook e Miss Matty ou a história do ‘pobre Peter’.

O livro é composto de capítulos curtos, que em geral parecem episódios soltos dessas senhoras de Cranford, podendo ser lidos até fora de ordem, como contos independentes. Todo narrado em primeira pessoa (e é apenas uma vez, já quase no final do livro, que descobrimos o nome dessa narradora), ele cria um senso de intimidade, de cumplicidade com o leitor que é também, por si, bastante interessante.

A série que citei no início mistura ao texto original desse livro outros contos da autora que continuam a visitar o querido vilarejo – e creio que essa amálgama tenha feito a série ganhar bastante em termos de ritmo e drama. Judi Dench está absolutamente sensacional como Miss Matty e – nunca pensei que diria isso dela, uma vez que estou acostumada em vê-la em papéis bem fortes – te dá uma vontade enorme de abraçá-la e pedir para sentar no colo.

* Lu Darce (JASBRA-PE) está de malas prontas para passar férias em Cranford. Esse e outros roteiros turísticos-literários, você encontra em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Gazeta de Longbourn – Edição Especial do III Encontro Nacional

No Recife, são duas da tarde do dia 13 de novembro… e estamos abrindo o III Encontro Nacional da JASBRA! Enquanto palestramos, discutimos e debatemos do lado de cá, já deixo vocês com a nossa segunda edição do Gazeta de Longbourn!

Em dezembro, edição especial de Natal! Mandem seus recados da paróquia, suas cartas pedindo conselhos para miss Emma, seus pedidos de entrevista e quaisquer outros emails para gazetadelongbourn@jasbra.com.br. Participem! Afinal, o Gazeta também é de vocês!

Lu Darce.

Gazeta de Longbourn Apresenta: An Assembly Such as This

The young officers he had overtaken pushed past him, all now holding the hands of females whom Darcy was able to identify as Elizabeth’s younger sisters. They encircled her and Denny and, one og them pulling on that officer, bore him away to the ballroom. Elizabeth turned, waving them off with a wistful smile. As she did, Darcy finally saw her complete. The sight utterly ravished him. It was, suddenly, painful to breathe. The roaring of the blood through his veins caused the world about him to go silent.

Part of my soul, I seek thee and thee claim
My other half…
Where had he read that? He mused as he stood unmoving, mesmerized by the vision before him.
“Part of my soul…” He comanded his limbs to move. He took a step toward those marvelous eyes alight with so much life. “I seek thee…” Another step and he thought their eyes met, but it could not have been, for she was turning away. “My soul…”

Comprei esse livro por indicação da Terry Hubener, do JASNA, quando esteve aqui no Brasil ano passado, à época que ocorreu nosso primeiro encontro regional. Confesso, contudo, que não levava assim tanta fé que o livro fosse, nas palavras dela, “a melhor de todas as adaptações de Orgulho e Preconceito; a melhor versão do Darcy que vi em muito tempo”.

Tendo achado que se tratava de um certo exagero de fã, demorei alguns meses para encomendá-lo e, ainda assim, só pedi o primeiro – não queria me arriscar a comprar toda a trilogia e depois torcer o nariz.

Não tinha chegado na metade do livro quando paguei a língua e corri para encomendar os dois volumes seguintes, já quase arrancando os cabelos porque sabia que eles não chegariam a tempo de me permitir emendar a leitura.

An Assembly Such as This não é um livro bom. Não. Ele é, exatamente como a Terry disse, a melhor, a mais completa e fiel versão do Darcy fora das mãos da Austen. é uma coisa assim… completamente espetacular. Excepcional. Algo que me faz querer cantar odes à Pamela Aidan.

E não, não acho que estou exagerando.

O livro é delicioso, montando um retrato muito digno de Mr. Darcy, expandindo seu personagem para além da sua paixão por Lizzie Bennet. Ele está inserido numa perspectiva histórica – você vê Darcy vibrando com livros sobre a campanha do futuro Duque de Wellington na Península Ibérica (estamos, afinal, nos tempos das Guerras Napoleônicas); torcendo o nariz para os modismos do Príncipe Regente, freqüentando clubes de cavalheiros, discutindo política…

Mais divertido ainda é ver as pessoas que o rodeiam: o hilariante Fletcher, seu valete pessoal que quase me mata de rir com suas citações shakesperianas e manipulações maquiavélicas do guarda-roupa de seu mestre; ou Lorde Dyford Brougham, amigo em Londres de quem você nunca sabe o que virá a seguir.

Agora, a cereja no topo do bolo é o Bingley – e uma das minhas passagens favoritas é aquela em que Darcy relembra como os dois se tornaram amigos. Em seu tratamento com o companheiro, Darcy pensa constantemente na relação que tinha com o próprio pai, nos ensinamentos que herdou deste; e é difícil não se deixar enternecer pela preocupação e lealdade que eles sentem um pelo outro.

Claro que a melhor parte de toda a história é vê-lo ir gradualmente se pondo sob o encanto de Lizzie. A cena do baile em Netherfield é de tirar o fôlego, de deixar a gente flutuando em nuvens: é doce, passional, angustiante, tudo ao mesmo tempo.

Agora toca esperar os próximos volumes, roendo as unhas porque – maldade das maldades – o primeiro volume termina justamente quando Darcy e Bingley partem para Londres. Quero vê-los em Rosings! E Pemberley! Preciso desesperadamente de mais!

* Lu Darce (JASBRA-PE) recebeu os dois livros que faltavam dessa trilogia na tarde em que terminou de escrever essa resenha e quase pulou em cima do carteiro de felicidade. Esse e outros arroubous apaixonados, você encontra em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Gazeta de Longbourn Apresenta: Lost in Austen

ATENÇÃO!!! A RESENHA A SEGUIR CONTÉM SPOILERS!!!

Você amaldiçoa suas estrelas sem sorte. Elas não apreciam ser amaldiçoadas. Você perde 10 pontos de Fortuna. Quando você vai aprender?

Ok, então, antes que possamos começar qualquer coisa, se você assistiu a minissérie Lost in Austen e tem esperanças de encontrar na resenha de hoje mais da Amanda entre os Bennet e Lizzie no século XXI, tire seu cavalinho da chuva ou amargará uma enorme decepção. Eu sabia exatamente no que estava me metendo quando comecei essa leitura, de forma que me diverti imensamente, mas se te venderam o livro por causa da série, sinto muito te dizer que fostes vítima de propaganda enganosa.

Feita essa recomendação, prossigamos rumo à mascarada.

Já tinha lido anteriormente livros como Lost in Austen, do tipo ‘faça a sua história’, de forma que não tive problemas em acompanhar o constante ir e vir de páginas. O que acontece é o seguinte: ao término de cada capítulo, você se depara com um desafio ou uma escolha de atitude, que irá orientar a história até o final – um final que você decidiu com as ações que tomou. O objetivo, como num jogo (e esse livro poderia ser maravilhosamente adaptado num jogo de tabuleiro), é casar bem, um casamento que seja tanto socialmente seguro e aceitável quanto feito por amor.

Ah, sim, antes que eu me esqueça, VOCÊ é Elisabeth Bennet.

Em minhas aventuras e desventuras pelas páginas do livro, fui pedida em casamento por Henry Crawford, Mr. Collins, Tom Lefroy, Mr. Knightley e Mr. Darcy, mas terminei largando Darcy para ir morar com minha tia, Mrs. Gardiner, tornando-me escritora. Alguns caminhos alternativos me fizeram ser desfigurada por ciganos, quebrar o pescoço após escorregar no gelo, suicidar-me após casar com Wickham, matar Mr. Collins com uma livrada no meio da testa e atropelar com a carruagem a prometida de Mr. Willoughby.

Ah, sim, eu também passei por cima de Mr. Elton com minha carruagem. Descobri-me uma pessoa muito sanguinária com esse livro…

E não, não acabo de contar o fim do livro porque, ao final das contas, é você quem faz seu final e ninguém garante que ele será igual ao meu, não?

Confesso que me diverti um bocado enquanto meu caminho se entrecruzava com vários dos personagens de Austen – e tudo de uma maneira bem convincente… exceto pelos vários tipos de mortes e crimes que você pode encontrar em sua jornada. E eu que achava que meu máximo risco era permanecer uma solteirona convicta quando comecei a aventura…

A narrativa segue de perto Orgulho e Preconceito e, claro que uma vez que você conhece os textos originais da autora, você tem condições de tomar suas escolhas com um objetivo específico em mente. O único problema no seu caminho rumo ao coração de Mr. Darcy (ou qualquer outro dos heróis… ou vilões) são as intervenções do narrador-deus que vive tirando pontos de fortuna por que você não pára de amaldiçoar suas estrelas da sorte (cheguei ao final com zero pontos de fortuna…) e, de forma geral, rindo da sua cara.

Não, sério. A impressão que eu tinha era de estar jogando RPG com um mestre sadista que estava o tempo todo rindo de mim por trás do seu livro-guia.

Acredito que seria interessante fazer uma leitura de Lost in Austen em grupo, com várias pessoas competindo para ver quem consegue se casar com o homem de seus sonhos… ou terminar mais miserável. Repito que a idéia poderia ser aproveitada brilhantemente num jogo de tabuleiro – talvez até me anime de tentar fazê-lo amadoramente para colocar a turma do clube do livro daqui jogando (mas numa versão bem mais simplificada).

Para quem gosta de jogos e gostaria de tentar a mão em conquistar seu próprio Darcy (ou qualquer outro dos protagonistas de Austen), é uma excelente pedida. Acho que vou ler de novo, para descobrir novos outros finais além do felizes para sempre…

* Lu Darce (JASBRA-PE) acha que esse livro podia ser adaptado para um jogo de tabuleiro estilo War. Afinal, se no amor e na guerra vale tudo… Essa e outras idéias brilhantes você pode encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.

Gazeta de Longbourn apresenta: Eu fui a melhor amiga de Jane Austen

Jenny, órfã de pais, viveu boa parte da sua infância em um internato em Southampton, na companhia de Jane, um ambiente frio e miserável que, nas suas palavras, “cheirava à morte”. Com a coragem de Jenny para salvar a prima que estava muito doente, as duas conseguem se libertar e vão morar na casa da família Austen.

Entre aulas de etiqueta com uma prima francesa e alguns flertes – por ocasião do seu primeiro contato com garotos –, Jenny se apaixona por um marinheiro, e se vê diante de um dilema que representava um risco à sua reputação.

Com esse diário aberto ao público, as jovens fãs de Jane Austen terão a oportunidade de se encantar ainda mais com a personalidade marcante, a inteligência, a perspicácia e a divertida forma com que essa escritora lidava com as adversidades. Jenny Cooper conta com orgulho e carinho sobre como amadureceu com a amizade de Jane Austen – a menina esperta que sempre tem respostas para tudo –, suas incríveis histórias imaginadas a partir de pessoas do seu convívio e seus conselhos sempre confortantes.

Devorei esse livro em duas horas, sentada no meio da livraria. Volta e meia faço isso: começo a ler na loja, perco um pouco a noção do tempo, mas não chego a ficar maluca para carregá-lo comigo e enfiá-lo na estante que já não cabe mais de livro – até porque se eu comprasse tudo o que folheio estaria a essas alturas devendo até as calças.

Bem… primeiro ponto a se destacar nesse título: ele é um livro juvenil, então não vá atrás dele procurando o mesmo peso e profundidade dos livros da própria Austen. Do meu ponto de vista, ele é perfeito para começar o processo de lavagem cerebral das crianças: a narrativa tem romance, aventura, desenhos e Jane Austen. Se minhas sobrinhas fossem um pouco mais velhas, eu o teria comprado para elas. Vou ter de esperar alguns anos ainda, mas elas vão chegar lá…

Segundo ponto… os desenhos. Cara, como eu queria saber desenhar… Fiquei absolutamente encantada com as ilustrações que adornam a história, ou melhor, o diário – sim, porque estamos aqui diante de um diário, pertencente à prima de Jane, miss Jenny Cooper. Eles são tão simples e graciosos, despretensiosos mas ainda assim muito delicados, de tal forma que toda vez que me deparava com um, passava uns dez minutos sorrindo como boba.

Terceiro ponto: Jane Austen. Bem, como já disse antes, o livro é o diário de Jenny, prima e melhor amiga de Jane, compreendendo a época da adolescência de ambas. Jenny é uma menina tranqüila, doce, fazendo contraponto ao verdadeiro furacão como Jane é retratada, com uma vivacidade e imaginação sem igual. Ela é popular, senhora de si, irônica, e, ao mesmo tempo, companheira e confidente, uma amiga que todos gostaríamos de ter.

E bem que Jenny precisa de uma amiga. Entre o irmão e a cunhada avarentos doidos para se livrar dela (olá, Fanny Dashwood…) ao garboso comandante William da marinha por quem ela se apaixona nas circunstâncias mais improváveis, há sempre algo com que se preocupar: vestidos, assaltos a diligências, aquarelas, rapazes, fugas desesperadas no meio da noite…

Se fosse para encontrar um equivalente literário moderno, eu diria que Eu fui a melhor amiga de Jane Austen tem tudo a ver com O Diário da Princesa da Meg Cabot.

Enfim… é um livro divertido, que serve como uma boa introdução ao mundo de nossa escritora favorita – especialmente para os mais novos – com graça, diálogos rápidos, muitas surpresas e boas tiradas de humor.

* Lu Darce (JASBRA-PE) sentiu uma enorme vontade de chutar alguém quando se deparou com o personagem chamado Tom Chute. Sério, minha gente, Tom, chute? O que era para se pensar? Esse e outros atos de violência gratuita, você pode encontrar em Coruja em Teto de Zinco Quente.