William Deresiewicz
Gazeta de Longbourn: Aprendi com Jane Austen

William Deresiewicz tinha 26 anos quando conheceu a mulher que mudaria sua vida. E, para ele, pouco importava que ela tivesse morrido quase 200 anos atrás. A verdade é que até aquela época, o então estudante de pós-graduação, habituado à leitura de James Joyce e Joseph Conrad, nunca havia desejado ler Jane Austen, o que veio a acontecer meio por acaso e até contra sua vontade. O resultado, porém, não poderia ter sido mais revolucionário. Os romances da escritora inglesa que viveu entre 1775 e 1817, como pontua Deresiewicz, iriam ensinar-lhe tudo o que viria a saber a respeito do que realmente é importante na vida.
‘Gente, mas que livro maravilhoso!’ – foram estas minhas exatas palavras ao terminar Aprendi com Jane Austen, pouco antes de voltar ao começo para reler minhas partes favoritas (todo ele).
Há um milhão de motivos para devorar este volume. O primeiro é que se trata de uma história real, de uma série de experiências de vida intimamente ligadas aos livros de Austen – de uma resposta, enfim, à importância e impacto que esta genial romancista consegue produzir em seus leitores mesmo duzentos anos após o início de suas publicações.
Em segundo lugar, ele foi escrito por um homem.
Não é preciso ir muito longe para perceber o quanto isso é importante. Nos fóruns de discussão da própria JASBRA – no facebook, a lista de emails, o próprio fórum – eles são uma minoria. Eu tenho o enorme prazer de ter no Clube do Livro aqui do Recife um deles (oi, Michel!) e ao menos dois grandes amigos meus já foram influenciados e admiram a obra dela (um deles viciou-se no filme de Orgulho e Preconceito e está tendo de sair de casa para reassistir, porque ninguém lá agüenta mais uma repetição XD).
Seja como for, um livro escrito por um membro do sexo masculino assumindo a importância que as obras de uma autora supostamente de romances água-com-açúcar (idéia errônea que muita gente ainda tem) – e não apenas academicamente, mas em sua vida e crescimento pessoal – é algo para se aplaudir. É um livro, enfim, para romper preconceitos e abrir caminhos.
Além de tudo isso, é um livrinho delicioso, direto ao ponto, cheio de humor – humor cáustico, humor leve, humor bem-humorado. Deresiewicz não tem medo de admitir nada, nem mesmo aquilo que pode depor contra ele – ele revela seus piores e melhores momentos enquanto passeia pelas obras de Austen.
Ao terminar Aprendi com Jane Austen, além das análises que ganhamos de cada um dos títulos apaixonantes de nossa autora preferida, bem como do sentimento de familiaridade, praticamente amizade que o tom íntimo de Deresiewicz nos oferece, fica um gosto de quero mais, de ler e reler de novo e de – porque não – começar a nossa própria história do que aprendemos ao mergulhar no mundo maravilhoso de Jane Austen.
* Lu Darce (JASBRA-PE) está pensando em escrever seu próprio roteiro de coisas que aprendeu com Jane Austen, entre as quais “não há nada como um bom livro para unir pessoas numa bela amizade”. Essas e outras conclusões você encontra em Coruja em Teto de Zinco Quente.
A força da obra de Jane Austen – William
Aprendi com Jane Austen – Lançamento Editora Rocco
Autor: William Deresiewicz
Tradução:André Pereira da Costa
ISBN:978-85-325-2681-6
Páginas:256
Formato : 14×21
Leia meus outros posts sobre o livro, aqui.
Sinopse (Editora Rocco):
As obras de Austen como guia de orietação para a vida
A literatura como orientação da vida
A partir de Jane Austen e de Montaigne, duas obras publicadas nos Estados Unidos investem na ideia de que livros e autores podem fazer, no dia a dia, as vezes de guias da própria existência
Quando o ensaio e o romance surgiram como formas literárias populares na Europa do século 17, os leitores procuraram neles a orientação espiritual e prática que até então encontravam em obras mais notoriamente filosóficas, como o Eclesiastes e as Meditações de Marco Aurélio. Samuel Richardson, romancista do século 17, tinha certamente plena consciência disso quando extraiu dos próprios romances “sentimentos morais e edificantes, máximas, advertências e reflexões”, como os definiu, publicando-os em um volume separado.O desejo de destilar sabedoria da literatura continua existindo, embora com a tendência contemporânea à autoajuda. É o caso de A Jane Austen Education, de William Deresiewicz, e How to Live, de Sarah Bakewell. Ambas as obras se baseiam em textos literários conhecidos para mostrar como o leitor pode aprender a viver melhor, embora os enfoques dos autores sejam bem diferentes quanto ao seu propósito.Ph.D. pela Universidade Colúmbia e membro do corpo docente de Yale, Deresiewicz é um destacado polemista que expõe (tomando emprestado o título do seu tão discutido ensaio de 2008 publicado na revista American Scholar, de uma sociedade acadêmica americana) “as desvantagens de uma educação elitista”. Nele, o autor afirma que Yale e outras escolas do mesmo calibre “esqueceram que a verdadeira finalidade da educação é formar mentes e não carreiras”, e observa que, hoje, elas não têm lugar para os pesquisadores e as mentes inquiridoras que, outrora, as instituições de ensino privilegiavam. Em outras palavras, ele não hesita em descrever o declínio que está na base de tantas análises contemporâneas sobre formação, educação, moral e a própria juventude.Assim como o seu ensaio, A Jane Austen Education pode ser entendido como a afirmação de uma missão. Em parte, ele repudia o elitismo e a arrogância intelectual que já levaram o jovem Deresiewicz a preferir Conrad e Joyce a Austen e Charlotte Brontë, preferência que ele abandonou quando a sabedoria dos romances de Austen venceu seu esnobismo obtuso. Embora de início menosprezasse a escritora, a leitura de Emma representou uma descoberta; por exemplo, ele constata que o romance expõe as provocações do personagem do título à idosa Miss Bates, como algo cruel e não espirituoso no sentido de cômico (moral: ser arguto e arrogante não é necessariamente uma coisa boa).Transformado por essa leitura, Deresiewicz encontra em cada obra de Austen uma lição de vida, às vezes banal. Aprendemos mais quando estamos errados do que quando certos (Orgulho e Preconceito). E finalmente: ter riquezas, poder e carisma pessoal não é garantia de felicidade (Mansfield Park).
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Fonte: Jornal Estadão
Texto de: Jenny Davidson
Traduzido por: Anna Capovilla









