Jane Austen é mais atual do que você imagina

Tive o prazer de falar sobre Jane Austen para o portal Protagonista!! Minhas contribuições estão ao longo do texto:

Os ensinamentos que a romancista do século XIX deixou no mundo, por meio de ótimas histórias e grandes protagonistas, serão sempre lembrados como revolucionários.

* O texto abaixo é um recorte da matéria publicada pelo Portal Protagonista, para ler o texto completo clique aqui.

Adriana Sales Zardini é Docente do CEFET-MG, possui Doutorado em Estudos Linguísticos pela Faculdade de Letras, UFMG. Além disso, é editora da Revista Literausten, participa do Podcast Café com Jane Austen, é presidente da Jane Austen Sociedade do Brasil desde 2009, escreve no blog Jane Austen Brasil desde 2008, é autora de diversos capítulos de livros e artigos sobre a escritora, além de ter traduzido Emma, Mansfield Park e Razão e Sensibilidade. Atualmente é membro da JASNA (Jane Austen Society of North America) e JASA (Jane Austen Society of Australia). A mesma relata que “Jane Austen recebeu uma educação simples em internatos, mas foi na casa dos pais que recebeu a instrução mais valiosa. Austen é filha do Reverendo George Austen, conhecido por seus sermões e, principalmente, por receber alunos que desejam se preparar para os estudos universitários. Assim, Jane tinha à sua disposição uma vasta biblioteca. Foi ali entre os livros que a escritora ‘colheu’ inspiração para tantas histórias maravilhosas como as que ela escreveu. Na época de Austen, não era comum uma moça escrever livros, muito menos com o objetivo de ganhar dinheiro. A família de Jane pertencia à ‘gentry class’, pessoas educadas, porém sem título de nobreza ou grandes heranças.”

“Austen muito provavelmente desejava apenas expressar suas opiniões e visão do mundo ao escrever. A importância de Austen na literatura universal é marcada, principalmente, pela escolha de temáticas simples, porém, que são factíveis em qualquer sociedade, inclusive no Brasil. O olhar certeiro de Austen para questões do foro íntimo é o que a escritora traz de revolucionário em suas obras. Naquela época, as mulheres viviam quase que exclusivamente para o lar. Eram raros os casos de mulheres com educação formal e que tinham como objetivo o trabalho fora de casa”, descreve Adriana Sales.

“Austen muito provavelmente desejava apenas expressar suas opiniões e visão do mundo ao escrever. A importância de Austen na literatura universal é marcada, principalmente, pela escolha de temáticas simples, porém, que são factíveis em qualquer sociedade, inclusive no Brasil. O olhar certeiro de Austen para questões do foro íntimo é o que a escritora traz de revolucionário em suas obras. Naquela época, as mulheres viviam quase que exclusivamente para o lar. Eram raros os casos de mulheres com educação formal e que tinham como objetivo o trabalho fora de casa”, descreve Adriana Sales.

Segundo Adriana Sales, “O universo feminino é apresentado em diversas nuances. Desde as mocinhas que nasceram em famílias ricas até as que passam por situações vexatórias por serem pobres. Ao descrever os hábitos e comportamentos da sociedade em que viveu, Austen nos dá um panorama sobre como era ser mulher naquele período. Se fizermos uma leitura mais detalhada de suas obras, podemos perceber inúmeros exemplos de regras de etiqueta, comportamento em público e privado, formas de se vestir e se arrumar, protocolos para fazer e receber visitas, cotidiano da vida rural da classe média inglesa, entre outros.”

“Sobre as personagens femininas, cada uma tem sua função em ‘abrir’ os olhos do leitor para questões que mereciam ser discutidas naquela época e continuam atuais até hoje.”, diz Adriana Sales. “As heroínas de Austen se mostram revolucionárias por terem um comportamento diferente, não rebelde, do que era esperado para mocinhas naquela época. Isso, por si só, já traz uma importância enorme para esse hall de personagens Austeneanas. Em graus diferentes, elas não se conformaram em viver a vida estabelecida para mulheres daquela época. Obviamente, Austen não é uma escritora feminista, o termo nem existia naquela época. Porém, podemos considerar as discussões presentes em seus livros como discussões acaloradas sobre a posição da mulher na sociedade no século XIX.” 

Adriana Sales relata como Jane Austen influenciou em sua vida, carreira e em como ela ajudou outros fãs a se encontrarem e terem referências: “Eu comecei a ler Austen na graduação em Letras e quando fui estudar nos Estados Unidos comprei todos os livros da autora. Durante a minha graduação pude assistir várias adaptações das obras de Austen, algumas inclusive no cinema, como Emma (1995). Eu fui me envolvendo com Austen aos poucos, até que em 2005 assisti uma nova adaptação de Orgulho e Preconceito para o cinema e ao chegar em casa já fui entrando no Orkut para ver se havia uma comunidade brasileira do livro/filme. Ao longo da minha participação nesse grupo no Orkut, que em 2005 já possuía mais de 10 mil membros, percebi que as pessoas tinham muita dificuldade de encontrar informações sobre Austen em língua portuguesa. Assim, em fevereiro de 2008, criei o primeiro blog/site referência sobre a escritora com o objetivo de divulgar a vida e obra de Austen, além de atualizar os leitores sobre notícias e lançamentos de adaptações e livros traduzidos.”

“No ano seguinte, em 2009, eu e mais algumas amigas fundamos a Jane Austen Society of Brazil, primeira sociedade da escritora em língua latina, com o propósito de organizar eventos e publicações semelhantes às que ocorrem na Inglaterra, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Até o momento, já traduzi três obras de Austen: Mansfield Park, Sense and Sensibility e Emma. Nossa sociedade já realizou inúmeros eventos, inclusive em outros estados do Brasil, para reunir leitores e fãs. Nesses eventos, temos roda de leitura, exibição de filmes ou séries de TV, apresentação de pesquisas e artigos científicos, entre outros. Nosso trabalho é reconhecido pelas Jane Austen Societies ao redor do mundo e, constantemente, somos convidados para eventos em outros países ou on-line.”

Ela continua: “Desde 2017, publicamos a Revista Literausten, primeira revista acadêmica totalmente dedicada à escritora, cujo objetivo é promover a discussão e divulgação dos trabalhos e pesquisas acerca de Austen aqui no Brasil. Atualmente, por causa da pandemia, estamos realizando lives no nosso perfil no Instagram (@janeaustenbrasil) e depois publicamos também no Youtube (Jane Austen Sociedade do Brasil). Vamos completar, agora em outubro, nossa 60ª live, que faz parte do projeto #janeaustenlives, cujo objetivo é entrevistar pesquisadores que fazem ou já concluíram pesquisas sobre os mais variados assuntos relativos à Austen e suas obras. Além disso, temos também um projeto chamado #RelendoAusten que proporciona a leitura coletiva e discussão das obras de Austen.”

Além dos projetos de leitura, Adriana possui uma trajetória de 12 anos de dedicação exclusiva ao universo da autora e diz ter “muita satisfação em falar da escritora e suas obras”. Como acadêmica, ela diz sempre encontrar um ‘jeitinho’ de falar Austen em suas aulas. “Em 2011, realizei um curso na Universidade de Oxford sobre Jane Austen e em 2018 defendi minha tese de doutorado sobre o universo dos fãs Austeneanos aqui no Brasil.”

“O olhar para tantas questões sociais que a cercavam possibilitou a Austen escrever histórias fascinantes e que, aos olhos de hoje, podem ser consideradas revolucionárias. Como o caso das discussões a respeito da mulher não ter direito aos estudos ou à herança do pai, apenas por pertencer ao sexo feminino; mulheres escolherem se casar quando houvesse sentimento entre os parceiros, e não apensar uma ‘transação comercial’ entre as famílias; entre outros. Austen inova por trazer os assuntos do privado para o enredo de seus livros. Mostra que as discussões entre mulheres e homens, a vida em sociedade e experiências de pessoas ‘comuns’ valia a pena ser escrito e lido. Essas histórias continuam ‘vivas’ até hoje por serem universais, ou seja, podemos conhecer uma história de vida ou pessoa na vida real que possuem características presentes nas obras de Austen.”, conta Adriana Sales.

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