

O filme tem uma fotografia linda, tanto de exteriores quanto de ambientes fechados. Mostra a cidade de Bath em todo seu esplendor, com sua arquitetura típica, o Royal Crescent, as ruas, os cafés, o apartamento luxuoso onde os Elliot se hospedam.
Dakota Johnson faz uma Anne Elliot contida e carinhosa, e Cosmo Jarvis faz um elegante Capitão Wentworth. No entanto, Anne com sua voz em off explica demais ao invés de deixar o enredo mostrar as características das personagens, o que retira da narrativa a sutileza e a ironia de nossa grande autora Jane Austen. O Capitão expõe demais seus sentimentos, tanto nas atitudes quanto na fala, o que não é típico da personagem do romance: ele é muito mais contido, como Ciaran Hinds atua na versão da BBC no final do século XX. Nessa versão, o espectador percebe com muito mais clareza as mudanças que se passam em Anne durante o desenrolar da história, tanto no seu crescimento emocional passando da mocinha tímida e desprezada para uma adulta segura de si, como na sua transformação de jovenzinha feiosa e em uma linda jovem, como inclusive o pai comenta em sua volta para Bath depois do incidente em Lyme, tanto no romance quanto na versão Amanda Root. Richard Grant faz um bom Sir Walter Elliot, mas mesmo assim menos imponente do que o da versão anterior.
Tenho observado nas últimas produções da Netflix a necessidade que os diretores das séries e dos filmes têm insistido em mesclar raças em suas histórias, como vimos na série Brigertons, em que o Duque é um afro descendente, como sua protetora, Lady Danbury, assim como a sociedade londrina é toda mesclada. Em Persuasion o mesmo acontece, nas personagens de Lady Russel e do Capitão Benick, assim como a sociedade em geral que desfila pelo filme. Há de se elogiar a tentativa de igualar a sociedade em relação a raças e gentes, mas em se tratando de histórias de época – Persuasion acontece durante, ou logo depois das guerras napoleônicas no século XIX – essa tentativa tira a autenticidade da história sendo contada. Melhor tentativa foi o filme Orfeu do Carnaval, que reproduziu no cinema brasileiro a história de Orfeu e Eurídice de um casal pobre das favelas cariocas.
Contudo, é um filme bonito de se ver, uma história de amor duradouro, ambiente limpo e agradável, personagens bonitos. Jane Austen só forneceu o plot e o pano de fundo.
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