Mansfield Park é para se ler com calma!

  Eu convidei a Rita Paschoalin (Blog A Estrada Anil) para publicar aqui no blog da JASBRA as resenhas que ela escreveu sobre os livros de Austen. O primeiro texto de Rita é sobre Mansfield Park:
Venho lendo Mansfield Park lentamente, como é de meu feitio. Ainda que tivesse intenção de devorar o livro rapidamente, não teria tempo para fazê-lo, não agora que fevereiro já avançou e a rotina engrenou de vez. Não reclamo nada, nada. Doses diárias de J. Austen não me fazem nenhum mal e mesmo as menores delas me trazem a sensação já familiar de encantamento. Quando o tempo me permite, mudo-me para Mansfield Park onde já transito com desenvoltura pela casa, entendo aquele olhar de Edmund e morro de rir com os tropeços da vaidade em pessoa, Mrs. Norris. Também desprezo Henry e temo pelo caos que Mary Crawford pode trazer à vida de minha queridíssima heroína Fanny. Já sou de dentro, sou da casa. Há dias em que avanço não mais que duas páginas e ainda assim sei que encontrei nelas mais beleza do que em alguns livros inteiros que li vida afora. Ainda que sejam páginas descritivas, de narrativa mais lenta, nada em Austen me é enfadonho. Sua escrita é uma pintura expressionista: enche meus olhos.

Hoje Fanny guardou um pequeno bilhete interrompido, duas linhas, não mais, como se fosse uma joia. A primeira “carta” que ela recebeu na vida, entregue em mãos pelo autor. Enquanto espio a cena, como se estivesse escondida num cantinho do quarto onde ela se passa, vejo seu rosto apreensivo e confuso. É maravilhoso ler seus pensamentos, saber da inteireza de sua angústia. Se eu pudesse, sei que não resistiria e cochicharia do alto da página, bem baixinho: “ah, Fanny, espere, não tema, você está em boas mãos” e estragaria todo o suspense. Ainda bem que não posso. E toco o passeio pelas palavras-tintas de Austen. 

***

“To her, the hand-writing, independent of anything it may convey, is a blessedness. Never were such characters cut by any other human being, as Edmund’s commonest hand-writing gave! This specimen, written in haste as it was, had not a fault; and there was a felicity in the flow of the first four words, in the arrangement of ‘My very dear Fanny,’which she could have looked at for ever.” (ownnnnnnnnn…. sweet!)

Onde mais se lê coisa tão linda sobre a caligrafia da criatura? 🙂

E vocês, concordam com a opinião de Rita?

10 thoughts on “Mansfield Park é para se ler com calma!

  1. Lília 13/02/2012 / 1:44 PM

    Parabenizo a Rita… Escreve de forma tão delicada. Gostei de saber que não sou a única a ler os livros com calma, devagar para poder ter a real percepção da importância da obra. E concordo com ela: ao 'mudar' para a casa, um novo mundo nos espera, e, este, é cheio de encantamento. Me sinto assim em todos os livros de Jane Austen. A vontade é de ler de novo… e de novo… 😉

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  2. MJ FALCÃO 13/02/2012 / 1:47 PM

    Sempre bom ler Jane Austen, ou reler. A mim acompabhou-me a vida toda e releio ainda hoje tudo o que encontro…
    Vi na Catedral de Winchester o túmulo dela e uma Exposição sobre ela. Vou escrever um post e depois mando, ok?
    beijinhos, Adriana!

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  3. Adriana Zardini 13/02/2012 / 2:07 PM

    Lília, eu também tenho essa sensação! Acabo lendo e relendo os mesmos livros de Austen por me sentir 'em casa'.

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  4. Adriana Zardini 13/02/2012 / 2:08 PM

    MJ Falcão, basta me avisar! Eu adoraria publicar suas impressões sobre Austen e os lugares onde ela viveu!

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  5. Adriana T 13/02/2012 / 6:50 PM

    Lindo texto!!!
    Gosto muito de Mansfield Park, e sempre leio os livros de Jane Austen devagar, também gosto de saborear lentamente.

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  6. Deh*** 13/02/2012 / 9:38 PM

    Realmente, a heroína de Mansfield Park é mto diferente de Elizabeth Bennet. Não tem toda a personalidade e carisma da personagem de O&P. Confesso que mais vezes fiquei pasma com as atitudes do Edmond, que parecia cego e passiva com tudo o que acontecia a seu redor, do que com as atitudes da própria Fanny.
    Mas de maneira nenhuma isso fez com que o livro ficasse com uma leitura difícil. Muito pelo contrário, li a versão em inglês com o mesmo fascínio e a mesma curiosidade que li os outros de Austen. Para mim, Mansfield Park é tão digno quanto. E, digo mais, prefiro ele do que Razão e Sensibilidade, pois algumas atitudes dos personagens deste livro me deixam mais nervosa do que as dos personagens de Mansfield.

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  7. Rita 13/02/2012 / 9:38 PM

    Obrigada, Lília! E obrigada a você, Adriana, pela publicação do post.

    Estou me sentindo em casa. 🙂

    Abraços,

    Rita

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  8. Escritos Greice 14/02/2012 / 8:34 AM

    Um amor o jeito de escrever da Rita. Um carinho só, com a Jane, que merece mesmo!!
    Falando sobre a primeira obra que conheci (e é minha preferida) da Jane Austen, primeiro a vi e depois a li. Como já sabia o que ia acontecer, fui lendo bem devagar nas partes que mais gostava, “poupando”, “degustando” bem cada palavra!
    Entendo perfeitamente a Rita!
    Parabéns a vocês!!!

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  9. Carol Bauer 14/02/2012 / 10:05 AM

    Rita,

    Apesar de ainda não ter lido Mansfield Park fiquei encantada com o post da Rita. A forma dela escrever transmite exatamente o que, pelo menos no meu caso, sinto quando leio alguma obra de Jane Auste. Cada vez que leio Orgulho e Preconceito, por exemplo, me sinto em casa com todas as irmãs Bennets, tenho raiva da Caroline e conheço todos os pensamentos de Elizabetty. Me transporto para aquele mundo tão peculiar, tão encantador e por algumas horas vivo uma outra vida, a vida daquelas pessoas.

    Bjos
    Carol

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  10. CMachado 15/02/2012 / 7:08 AM

    Olá pessoal!!
    Tb sou fã da Jane, rsrs
    Adquiri Mansfeald Park da tradução melhor que vcs falaram aqui Rachel de Queiróz, deve chegar depois do carnaval. Quero muito começar…
    Obrigada pela dica, pois me irrita traduções ruins, ou até mesmo erros de revisão.
    abç e boas leituras!!

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