Henry Rice: Historiador de Jane Austen

Dia 23, o Times Online publicou um artigo sobre o historiador Henry Rice, falecido no dia 14 de janeiro. Descendente do irmão de Jane Austen, Edward Austen, Rice era profundo conhecedor da história de sua família e dedicou parte de sua vida a provar a autenticidade do “Retrato Rice”, pintura a óleo que retrataria Jane em sua adolescência.

Abaixo, segue a tradução que fiz do artigo. Para ler o original, basta clicar aqui.


Henry Rice: Historiador de Jane Austen


Henry Rice, descendente direto do irmão de Jane Austen, Edward, era um historiador incansável da família. Suas pesquisas eram altamente produtivas, mas também lhe acarretaram muitas controvérsias que remetem há muitos anos. Em 1973, ele herdou um retrato a óleo de corpo inteiro, que durante muito tempo acreditou-se ser o retrato de Jane Austen na adolescência. Mas se a imagem trata-se realmente da romancista, o assunto ainda é discutido até hoje.


Rice não se aprofundou na controvérsia e durante 35 anos de sua vida dedicou-se a provar a autenticidade do quadro que, se for comprovado, será a única pintura a óleo da escritora.


Filho de Edward e Marcella Rice de Dane Court, próxima a Broadstairs, Kent, Henry John Bernard Rice foi educado nas redondezas, na St. Peter’s Court School, depois em Eton e no Trinity College, Cambridge. Desqualificado para o serviço militar, a princípio se juntou ao banqueiro Morgan Grenfell e depois ao International Harvester, o gigante industrial criado por J.P. Morgan. Sua carreira como fazendeiro começou em 1957 quando assumiu uma das fazendas da família em Everden, próximo a Dover, e quatro anos depois mudou-se para Swanton Farm, Dover, que somava 1000 dos 3500 acres do arrendamento da família.


Em 1973, depois da morte de seu pai, mudou-se para Dane Court, onde a família viveu por mais de 150 anos e onde o famoso “Retrato Rice” pairou sobre a lareira da sala de visitas por longos anos. A família de Rice, que acredita que a pintura data de 1789, tomou posse do retrato em 1883; originalmente o mesmo pertencia ao Coronel Thomas Austen, primo de Jane Austen.

Henry Rice teve uma carreira de sucesso como fazendeiro, tornando-se uma figura proeminente e inovadora na National Farmer’s Union. Depois de uma visita à Holanda, tornou-se um dos primeiros fazendeiros britânicos a cultivar o pântano de sal como terra produtiva. As suas plantações de aspargo e cenoura eram cultivadas sem colocar em risco a integridade do pântano. Ele também fundou a East Kent Cereal Growers, uma das primeiras cooperativas de fazendas da Grã Bretanha.


Em 1975, Rice vendeu a propriedade da família e se mudou para Guernsei, com tempo de sobra para se aprofundar na história da família antes de retornar à Inglaterra em 1983.





No que diz respeito ao retrato, foi um período difícil. Em 1932, a National Portrait Gallery ficou suficientemente impressionada pela origem do retrato Austen-Rice, sendo que o diretor Sir Henry Hake, encorajado por outro ramo da família, tentou comprar a pintura do avô de Rice, Henry E.H. Rice, que optou, no entanto, por manter o retrato com a família. Mas depois da guerra, opiniões divergentes começaram a surgir, começando em 1948, com a declaração de R.W. Chapman de que “não poderia ser Jane Austen” na pintura, porque o estilo das roupas da adolescente remetiam a “meados de 1805 (quando Jane tinha 30 anos) ou mais”. Como principal especialista da época, Chapman prendeu a atenção do publico. Outras dúvidas surgiram quanto ao estilo do penteado, que parecia pertencer a uma época mais antiga, e se era a Jane Austen escritora ou meramente outra garota com o mesmo nome, e em 1973 o comitê da Jane Austen Society, mostrando embaraço diante da família, fez uso do informativo anual da sociedade para dar apoio a Chapman, acrescentando que a garota na pintura poderia muito bem ser uma prima de Jane Austen com o mesmo nome. Apenas no informativo anual da sociedade em 1974 essa ideia foi refutada.

Então, para o prejuízo considerável de Henry Rice, tanto emocional como financeiro, teve início o longo e turbulento processo de defesa da integridade do retrato, um caminho cheio de afirmações e contra-afirmações. Originalmente chamado de “o Retrato Zoffany”, após minucioso exame e a descoberta de seu monograma, o retrato foi atribuído novamente a Ozias Humphry. Entretanto, por associação, e em reconhecimento à vitória de Henry Rice, passou a se chamar “o Retrato Rice”.


Em 2007, o Retrato Rice foi a leilão em Nova York, na Christie’s, que, em seu catálogo, apoiava a atribuição e falava da sua “impecável” procedência: “o fato de ter sido considerado um retrato de Jane Austen pelos membros de sua própria família, que remete ao ano de sua morte, dá enorme credibilidade à identificação da pessoa como Jane Austen”.


No entanto, não conseguiu alcançar a reserva de $400,000-800,000, provavelmente por causa da controvérsia em torno da identidade do retrato, e a venda foi cancelada.


A National Portrait Gallery continua a ter reservas com relação à identificação. Jacob Simon, o curador chefe da NPG e diretor representante, disse: “poucas pinturas foram exploradas com tanto detalhe e, mesmo assim, não há consenso sobre a identidade da garota retratada. Continuamos a acreditar que os traços estilísticos do retrato e o colorista do carimbo que está no reverso da tela – que é a única peça incontestável da principal evidência associada ao retrato – sugerem uma data em torno de 1802-06, quando Jane Austen seria uma mulher com trinta e poucos anos e não a adolescente retratada aqui”.


No entanto, a opinião da NPG não é aceita por todos. A moldura, o revestimento e a parte de trás da tela são frequentemente escrutinadas com uma avançada iluminação digital em um laboratório em Paris, um exame que deverá revelar se há ou não evidência que aponte para a data e identidade do retrato. Tecnologia Lumiere é o laboratório que recentemente afirmou ter encontrado uma impressão digital de Leonardo da Vinci em uma pintura que se acreditava ter sua origem na Alemanha do século XIX.


Outra ambição não foi cumprida: a criação de um Jane Austen Centre, uma instituição para abrigar uma biblioteca, facilitar a acomodação e a pesquisa para o estudo da vida, da família e da obra de Jane Austen. Para essa finalidade, durante o ano de 1989, Rice reuniu suporte financeiro com a intenção de comprar um arrendamento em Chawton House, Hampshire, uma bela construção elizabetana. Perto de Chawton House, que pertenceu a Edward Austen, irmão de Jane Austen, fica Chawton Cottage, onde a mãe de Jane Austen e suas duas filhas fixaram residência em 1809 e onde Jane terminou seus três últimos romances. A oferta de Rice não foi aceita e depois de uma busca infrutífera por outras localidades ele desistiu do projeto para se dedicar ao retrato, um ato, como ele percebeu, de devoção familiar, que reverberava profundamente seu próprio senso pessoal de honra.


Rice foi casado três vezes, historiador de Jane Austen, nasceu em 7 de setembro de 1928. Morreu em 14 de janeiro de 2010, aos 81 anos.

3 thoughts on “Henry Rice: Historiador de Jane Austen

  1. Lília :-) 26/01/2010 / 12:44 PM

    Oi Elaine…

    Você está cuidando do blog perfeitamente… melhor do que eu! Entro para publicar os comentários e não tenho nada para fazer… kkkkk Mas não se preocupe viu, não estou criticando! Ao contrário, suas postagens estão maravilhosas. Esse artigo sobre o Henry Rice é enriquecedor! Parabéns! 😉

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  2. Elaine 26/01/2010 / 3:02 PM

    Oi, Lília. Obrigada pelo elogio e pelo puxão de orelha 😀

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  3. Lília :-) 26/01/2010 / 5:56 PM

    Não 'puxei' sua orelha…kkkk =P

    Mas realmente você tem escrito muito bem os posts… O da casa de Jane está muito bom! 😉

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