O homem que descobriu os segredos de Jane Austen

Mike Pride diz que conseguiu viver quase 40 anos sem ler qualquer livro de Jane Austen. Toda vez que a PBS ou os estúdios de Hollywood fizeram a ressurreição de Emma Woodhouse ou de Elinor e Marianne Dashwood, ele sabia que sua esposa teria que assistí-las. Normalmente quando havia uma previsão de um novo filme, Monique (a esposa de Mike) relia o livro no qual o filme se baseava. Monique conhecia os textos e falas de cor e salteado, porém sempre parecia descobrir alguma qualidade mais profunda nos personagens cada vez que os lia.

No mês passado, ele resolveu descobrir por que Monique gosta tanto de Auten. “Provavelmente, jamais gostarei de Austen como minha esposa, mas já li e gostei muito de Razão e Sensbilidade e agora estou lendo Orgulho e Preconceito: – diz Mike.
Mas por que agora?
Mike diz que tem que agradecer a J. P. Morgan! Sim, o banqueiro J. P. Morgan que comprou as três bíblias de Gutemberg. O mesmo Morgan que lotou suas prateleiras com obras primas da Renacença, além de ser dono do manuscrito de A Christmas Carol, de Charles Dickens. Morgan também adquiriu uma boa parcela das cartas de Jane Austen. As cartas estão em exposição até dia 14 de março na Morgan Library, em Nova York.
Obviamente, quando Mike soube da exposição logo pensou que teria que levar Monique. Mas encontrou lá, algo que chamou muito sua atenção: a correspondência de terceiros. Segundo Mike, ele adora ler as correspondência das pessoas. Ainda segundo Mike, Austen foi uma escritora de cartas fantástica, e boa parte das cartas que pertencem à Morgan são cartas trocadas entre Austen e sua irmã Cassandra. Embora as cartas estejam disponíveis em livros, existe algo de mágico ao vê-las ao vivo e em cores. A exposição ocupa uma galeria, mas gastamos mais de duas horas observando as cartas, e nos divertimos a cada minuto. Uma dos cantos foi escurecido para que fosse possível projetar um filme na parede, e foi isso que o convenceu de que a hora de ler Austen havia chegado.
Os comentaristas do filme são críticos literários, escritores e artistas que amam o trabalho de Austen. Pelo menos dois deles são homens, incluindo o primeiro a fazer seu discurso: Cornell West. Ele falou de Austen num tom quase como se fosse uma reverência, e lamentou por tê-la conhecido tão tarde, quando era estudante de graduação.
Mike se diz um novato no mundo de Austen, mas diz o que pensa do trabalho da escritora: Austen entende o ser humano. Ela sabe que as pessoas agem de acordo com o que elas pensam e dizem que são. Ainda segundo Mike, podemos entender o modo como os personagens principais de Austen agem porque ela os apresenta através de contrastes. Ao mencionar uma passagem de Razão e Sensibilidade, Austen não se contem a apenas relatar que Marianne ficou silenciosa, e acrescenta: “era impossível para ela dizer o que não sentia…” Que percepção astuta! Após ter assistido três versões de Razão e Sensibilidade, Mike ainda se sente paralisado pelo poder de criatividade de Austen!

Mike, diz que apesar de Austen ter morrido há 192 anos, hoje a consideramos como uma proto-feminista, pois mostrou o como era a sociedade Inglesa, especialmente para as mulheres. Talvez seja uma das razões pelas quais sua esposa e milhões de outras mulheres amam seus livros. Ele se sente contente, pois após esses anos, conseguiu abandonar a idéia de Austen não era para ele,  pelo simples fato de Austen é considerada uma escritora para mulheres. Mike, termina seu o texto dizendo: “eu estou lendo Austen agora, e me sinto como se tivesse ouvido um segredo que não me era permitido ouvir. Na verdade, é claro, é um segredo que eu guardo para mim”.

* O texto acima foi traduzido e adaptado a partir de um artigo do Concord Monitor.

***
1) Saiba mais sobre a exposição na Morgan Library aqui.
2) Um post muito interessante sobre os homens que lêem Austen no século XXI, escrito por Vic no Jane Austen World  – o crédito da imagem acima não foi informado, tendo sido copiado da página do Jane Austen World.

13 thoughts on “O homem que descobriu os segredos de Jane Austen

  1. Mari 30/12/2009 / 8:13 PM

    Ah, linda a história! Eu sou uma boba mesmo, sempre me emociono com essas histórias de pessoas que do nada descobriram Jane Austen e agora não conseguem mais se desligar dela! Aposto que a Monique em breve vai encontrar um concorrente em sua adoração hahahahaha

    Gostar

  2. Lord Daniel 30/12/2009 / 10:18 PM

    It would appear that Mike Pride has lost a kind of “pride”. Let him rejoice in it!

    Gostar

  3. Célia Costa (Celly) 30/12/2009 / 10:49 PM

    Também amei essa história! Espero um dia convencer meu filho a ler Austen, por enquanto ele está numa fase cientifica ( só quer saber de Darwin e da evolução, riso ) mas quem sabe quando passar essa fase…
    bjs

    Gostar

  4. Lilian 31/12/2009 / 8:24 AM

    Oi Adri…

    Acabei de ler aqui esta reportagem para meu marido. Quem sabe assim, o convenço a ler Austen.

    Me disse que este tentaria ler um livro dela.

    Um bom começo, é que ele já se dispôs a ler Jane Eyre, pois gostou muito do filme. Daí…quem sabe ele se enverede pelos caminhos de Austen:)

    Beijos

    Gostar

  5. Adriana Zardini 31/12/2009 / 9:11 AM

    Lilian, se ele já leu Jane Eyre… é um pulinho para ler Austen. Escolha um mais sério como Persuasão ou Mansfield Park.

    Gostar

  6. Cláudia Cristino 31/12/2009 / 10:59 AM

    ADri, fiquei arrepiada ao ler o depoimento de Mike…
    Obrigada por compartilhar conosco mais esta preciosidade!

    Gostar

  7. Luciana 02/01/2010 / 12:34 AM

    Adri,

    Nossa todos os homens deveriam ler este depoimento.

    Obrigada por compartilhar conosco.

    Gostar

  8. Ana Paula 28/03/2011 / 5:50 PM

    Jane Austen deveria ser literatua estrangeira mais que indicada, senão obrigatória, nas escolas brasileiras. Por valor histórico, social, já seria justificado. São romances complexos, importantes demais para ser “classificado” como literatura feminina de fim de tarde.

    Gostar

Deixe um comentário