Emma 2009 – uma opinião masculina

Nossa discussão sobre A Abadia de Northanger está fervilhando! Descobrimos que temos dois rapazes basantes participativos no grupo: Hitoshi e Lucas! Ontem, eu descobri o blog do Guilherme Wasner e ele faz um longo comentário sobre a mini-série da BBC Emma (2009). Pedi autorização para publicar aqui no blog e prontamente o rapaz me autorizou. Obrigada Guilherme!

Com Emma, a BBC faz seu retorno ao universo das marcantes heroínas de Jane Austen. Esta é a segunda adaptação (a primeira é de 1972) do livro homônimo da escritora inglesa, realizada pela emissora. Esta nova produção tem Jim O’Hanlon na direção e Sandy Welch no roteiro. Welch é habituée das produções da BBC, sendo responsável pela ótima adaptação de North and South e da elogiada versão televisiva de Jane Eyre, entre várias outros trabalhos. Nesta minissérie em quatro episódios, acompanhamos a trajetória de Emma Woodhouse (Romola Garai), a inteligente, bela, rica – e um tanto arrogante – filha de Mr.Woodhouse. Emma adora meter o bedelho na vida alheia, principalmente quando o assunto é casamento. Ainda mais se for ela a promovê-lo. O problema é que a jovem cupido não é tão competente como imagina. De fato, Emma é mais míope do que pensa em relação aos sentimentos alheios – e também com relação aos seus próprios. Não demora muito para que suas atrapalhadas intervenções descambem para o desastre, para profundo desgosto do seu grande amigo e vizinho, Mr. Knightley (Jonny Lee Miller, neto do “M” original e ex de Angelina “quem mais eu posso adotar?” Jolie). Está armado o palco para inúmeros encontros e desencontros, bem ao gosto dos fãs de Austen.
Emma é uma adaptação bem sucedida e agradável de assistir. A fotografia é belíssima e a história flui com bom ritmo, prendendo a atenção do início ao fim. Todavia, não é livre de problemas. O mais relevante tem a ver com a interpretação um tanto afetada de Romola Garai, a atriz que dá vida a Emma. Romola é mais conhecida por sua participação no excelente Atonement (no Brasil, “Desejo e Reparação”, numa vã tentativa de associação com Jane Austen), entregando uma Briony (na fase adulta da personagem) remoída pela culpa. Mas enquanto em Atonement a atriz exibia uma performance contida – e por isso mesmo, muito boa – em Emma ela descamba para o overacting. Tudo é muito exagerado, a ponto de parecer que estamos assistindo a alguma produção infanto-juvenil da Disney. Ainda que Emma seja uma personagem jovem e expansiva, não justifica uma caracterização tão histriônica. Nesse ponto Keira Knightley foi mais bem-sucedida. Em Orgulho e Preconceito (a versão cinematográfica), ela transmite com sucesso a graça, a jovialidade e a autenticidade de Liz Bennet sem, no entanto, dar a impressão de que estamos assistindo, por engano, a alguma comédia juvenil.
Para sorte de Romola (o nome é uma versão feminina de “Romulus”, mostrando que não apenas os jogadores de futebol são amaldiçoados por pais sem noção), ela também esbanja encanto e simpatia, o que compensa suas limitações, até certo ponto. Também ajuda um pouquinho o fato da atriz ser muito bonita e carismática (que olhos expressivos, por sinal!). Faltou aqui uma presença mais atuante do diretor O’Hanlon, no sentido de controlar melhor os exageros da atriz, tarefa que o competente Joe Wright tirou de letra em Atonement. Isso demonstra o quanto um diretor é importante para se obter o melhor desempenho possível do cast à sua disposição. Falando nisso, o destaque do elenco vai para o sempre ótimo Michael Gambon, que interpreta o hipocondríaco e hiper-protetor pai de Emma, sem descambar na caricatura.
Com defeitos ou não, Emma é uma delícia de se assistir e, mais uma vez, lamento por nenhuma TV a cabo se interessar em transmitir o conteúdo da BBC One aqui no Brasil. Principalmente sua vasta e caprichada biblioteca de produções de época, que mantém vivos os clássicos da literatura inglesa, de uma forma atraente e acessível para o público. Não há sequer a opção de adquirir os DVDs por aqui. A única alternativa é importar a peso de ouro, ou se resignar a torrents de baixa qualidade. E o que temos em substituição? A Fazenda? É de chorar…

Detalhe: adivinhem qual é a série favorita de Guilherme? Orgulho e Preconceito é claro!!! Segundo o rapaz, foi uma das melhores coisas já produzidas para a TV… se não for a melhor!

2 thoughts on “Emma 2009 – uma opinião masculina

  1. Lucas Demingos 29/10/2010 / 2:11 PM

    Achei a atuação da Romola um tanto afetada, mas sempre imaginei a Emma daquela maneira. É uma afetação da época, não podemos esquecer que a Emma é bem Regencial, o par do Dandy. Elizabeth Bennet foi criada antes, apesar de revisada, pertence a um período levemente anterior, onde as pessoas ainda eram um tanto mais contidas que no período posterior.

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